Autismo ou Transtornos do Espectro Autista (TEA) é o nome dado a diferentes transtornos do desenvolvimento, mas que possuem duas características-chave: dificuldades nas interações sociais e comportamentos repetitivos. Tratamentos para autismo costumam envolver uma combinação de abordagens comportamentais e administração de medicação e, tipicamente, não é possível falarmos em cura. A combinação de medicina regenerativa e modelagem de doenças com base em células-tronco e autismo têm despertado cada vez mais interesse, e é preciso estarmos atentos para separarmos informações confiáveis de falsas promessas.
Células-tronco e autismo: em que ponto estamos?
Em primeiro lugar, ainda não existem terapias com células-tronco aprovadas para o tratamento do autismo. Algumas iniciativas podem se aproveitar da vulnerabilidade de pais e mães de crianças com TEA para promover a comercialização de terapias inseguras em países com pouca regulação dos tratamentos de saúde. Esses tratamentos carecem de base científica e não são fiscalizadas ou aprovados por nenhuma agência regulatória.
No momento, as únicas terapias com células-tronco para tratamento do autismo estão em fase de testes em ensaios clínicos gratuitos . 13 ensaios clínicos com células-tronco para o tratamento de autismo já foram ou estão sendo conduzidos, o principal deles na Universidade de Duke, nos EUA. Esse estudo aceita apenas crianças que tenham células-tronco do cordão umbilical armazenadas, pois investiga o uso desse tipo específico de células no tratamento da doença.
Esse estudo foi recebido com ceticismo pelos pesquisadores da área: cientistas não sabem o mecanismo pelo qual célula-tronco injetadas e, particularmente, as células-tronco do cordão umbilical, seriam capazes de trazer melhora nos sintomas da doença. Há cerca de um ano foram apresentados os primeiros resultados, que indicavam que a terapia era segura e pelo menos moderadamente eficaz. Os participantes apresentaram melhora na comunicação social e menor sensibilidade sensorial e comportamentos repetitivos. Nos próximos anos teremos mais resultados deste e de outros estudos em andamento, que ajudarão a esclarecer a associação terapêutica entre autismo e células-tronco.
Como as células-tronco podem ajudar?
Ainda não está claro se células-tronco são uma opção terapêutica para o tratamento dos TEA. Seu uso, no entanto, vai além da medicina regenerativa.
Células-tronco e autismo: pesquisa
Doenças que afetam o cérebro permanecem difíceis de serem estudadas. Para complicar, os TEA são um grupo muito variado de transtornos, e esses transtornos afetam o d esenvolvimento do cérebro. O ideal seria poder acompanhar esse desenvolvimento em muitos pacientes diferentes, para tentar entender as causas e características moleculares de cada apresentação de TEA – pois o que vale para um subtipo deste espectro de doenças pode não se aplicar a outro. Células-tronco possibilitam exatamente isso, e pesquisadores brasileiros têm feito um excelente trabalho nesse campo!
Células-tronco do dente de leite, por exemplo, podem ser induzidas a se transformar em neurônios no laboratório. E o que é melhor: esses neurônios têm as mesmas características dos neurônios do paciente, possibilitando estudar as bases moleculares do autismo em laboratório. É possível até mesmo descobrir novos medicamentos, como mostrou a pesquisa da Dra. Karina Griesi-Oliveira (que também colabora para o site!). O projeto Fada do Dente, na Universidade de São Paulo, também vem usando células-tronco do dente de leite para entender melhor o autismo. As células são fáceis de ser obtidas, e garantem neurônios funcionais e com as mesmas características dos neurônios que compõem o cérebro do doador dos dentinhos.
Além disso, estamos cada vez mais perto da possibilidade de se gerar um cérebro completo (ou ao menos certas regiões cerebrais) em laboratório. Dessa forma, será possível acompanhar do desenvolvimento das células neurais de pacientes com autismo ao longo do tempo – algo m uito importante para um transtorno do desenvolvimento cerebral.
Células-tronco e autismo: tratamento e cura
Existe grande esperança para o uso de células-tronco como terapia para o autismo, mas ainda não está claro o mecanismo pelo qual essas células poderiam ser benéficas. Uma possibilidade, ainda em aberto, é o que o autismo esteja associado com disfunções no sistema imune. Caso isso seja verdade, certas células-tronco, como as células-tronco mesenquimais, poderiam ser úteis devido a suas propriedades anti-inflamatórias. Outra possibilidade é a de células-tronco injetadas formarem conexões sinápticas necessárias, mas em falta, no cérebro de pacientes com autismo. Também é possível que células-tronco não sejam um tratamento eficaz para TEA.
Saiba mais sobre o autismo e TEA.
O que é Autismo?
Os sintomas dos TEA estão presentes desde o início da vida, e a doença costuma ser diagnosticada com confiança quando as crianças tem por volta de dois anos de idade. Indivíduos com TEA costumam ter dificuldades tanto na comunicação verbal como não verbal, e problemas em iniciar, manter e entender relacionamentos interpessoais. Uma parte dos paciente apresenta déficits intelectuais, enquanto o restante apresenta cognição normal ou até acima da média. Ao mesmo tempo, é comum esses pacientes se destacarem em suas habilidades matemáticas, musicais, visuais e de memória, entre outros.
O que causa a doença?
TEA agrupa um conjunto heterogêneo de transtornos e, consequentemente, as causas também parecem ser heterogêneas. A base genética é bem estabelecida apenas para alguns subtipos, como a síndrome do cromossomo X frágil. Na maioria dos casos, parece haver uma combinação de predisposição genética (mais de 100 genes já foram associados ao autismo) e fatores de risco ambientais. Entre os fatores ambientais encontram-se idade avançada do pai e da mãe, infecção materna durante a gravidez e complicações durante o parto.
Quais tratamentos estão disponíveis?
O tipo e severidade dos sintomas é muito variável e, consequentemente, o tratamento também. A base do tratamento para os sintomas-chave dos TEA inclui diferentes abordagens cognitivas e comportamentais, como análise aplicada do comportamento (ABA – a pplied behavior analysis), terapia cognitivo-comportamental e diferentes tipos de terapias familiares. Indivíduos com TEA de alto funcionamento frequentemente recebem pouca ou nenhuma intervenção terapêutica porque a doença passa despercebida quando a criança tem bom desempenho acadêmico e consegue se comunicar suficientemente bem.
O autismo frequentemente é acompanhado de outras patologias, como convulsões, distúrbios do trato gastrointestinal e, em alguns casos, dificuldades para andar e falar. Nesses casos, o tratamento para essas condições precisa ser adicionado ao tratamento dos sintomas-chave. É importante que as abordagens cognitivas e comportamentais comecem o mais cedo possível e sejam intensas: de preferência, todos os dias da semana, várias horas por dia. Muitas crianças apresentam melhora significativa em resposta à terapia precoce e intensa, e cerca de 10% deixam de apresentar sintomas de autismo.
Fontes: