Resultados do estudo pré-clínico foram animadores: células-tronco pluripotentes induzidas se mostraram uma alternativa viável para uso em tratamento de pacientes com doença de Parkinson.
Você já deve ter ouvido falar da doença de Parkinson, ou talvez até conviva com ela de alguma forma. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais ou menos 1% da população mundial acima de 65 anos é acometida por essa doença. No Brasil, estima-se que o número total de pessoas acometidas esteja em torno de 200 mil. O sintoma mais conhecido é o tremor, especialmente nas extremidades, como nas mãos. Outros sintomas são instabilidade da postura, rigidez, lentidão de movimentos, alterações na fala e na escrita, diminuição do olfato, distúrbios do sono, alteração do ritmo intestinal e depressão.
Mas o que causa a doença de Parkinson e como as células-tronco poderiam ajudar? Essa é uma doença neurodegenerativa, caracterizada principalmente pela morte de neurônios dopaminérgicos de uma região cerebral chamada substância negra. Esses neurônios são responsáveis pela liberação de dopamina, uma substância que atua na comunicação entre células no cérebro e está envolvida em funções como movimentos voluntários, humor, estresse e recompensa, entre outras coisas. Por isso o interesse no uso de células-tronco para o tratamento: elas poderiam ser usadas para regenerar o tecido, diferenciando-se em neurônios dopaminérgicos e repondo os neurônios perdidos.
E saiu recentemente na Nature: essa abordagem deu certo em macacos. Estudos com ratos e macacos já haviam sido feitos antes mas, dessa vez, os cientistas da Universidade de Kyoto, no Japão, acompanharam a segurança e a eficácia do tratamento por um prazo mais longo, chegando a dois anos. Esse é o estudo mais longo já realizado.
Os resultados não poderiam ter sido mais encorajadores. As células transplantadas sobreviveram, funcionaram como neurônios dopaminérgicos e aumentaram os movimentos voluntários. E, o que é muito importante, a equipe não encontrou nenhum indício de formação de tumores, nem uma resposta imunológica muito forte, o que indica que essa intervenção é segura.
Nesse estudo o grupo, liderado pelo professor Takahashi, utilizou células de seres humanos adultos, tanto saudáveis como portadores da doença de Parkinson. Eles programaram essas células adultas, gerando células-tronco pluripotentes induzidas, que foram levadas a se diferenciar em células progenitoras dopaminérgicas. As células diferenciadas foram, então, transplantadas para o cérebro dos macacos.
Para acompanhar os efeitos do transplante, os pesquisadores utilizaram uma escala neurológica que leva em conta fatores como expressão facial, movimento em resposta a um estímulo, tremor e postura, e utilizaram também vídeos de 90 minutos para analisar os movimentos espontâneos dos macacos.
A melhora observada foi clara: os macacos tiveram um aumento de 40 a 50% na pontuação na escala neurológica e chegaram a se mover três vezes mais do que antes do transplante, resultados significativamente superiores aos observados no grupo controle, que não recebeu as células. E, ainda: essa melhora ocorreu independente de as células utilizadas no transplante serem provenientes de adultos saudáveis ou com doença de Parkinson, o que abre a possibilidade de que as próprias células de um paciente sejam utilizadas para o tratamento. O próximo passo, que os cientistas esperam realizar até o final de 2018, é conduzir um estudo clínico com pacientes humanos.
Referências: