Entendendo como células-tronco combatem a esclerose sistêmica

Entendendo como células-tronco combatem a esclerose sistêmica

Pesquisa brasileira desvenda como o transplante de células-tronco leva à remissão da esclerose sistêmica, e também um jeito de garantir que mais pacientes se beneficiem

 

A terapia com células-tronco autólogas (ou seja, do próprio paciente) tem sido testada experimentalmente contra a esclerose sistêmica, e os resultados não podiam ser mais animadores: o tratamento é capaz de levar à remissão total dos sintomas da doença. No entanto, nem todos os pacientes se beneficiam. Não se sabia a razão, mas de 20% a 25% dos pacientes não respondiam à terapia celular. Um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP em colaboração com a Universidade Paris Diderot, da França, ajuda a entender porque, e nos deixa um pouco mais próximos de um tratamento eficaz contra a doença.

A esclerodermia (que em grego significa “pele dura”) é uma doença autoimune na qual tanto a pele como os órgãos internos podem ser afetados por fibroses, o tipo de tecido espesso e rijo das cicatrizes. Como toda doença autoimune, ela é consequência do sistema imunológico se voltando contra o próprio corpo, embora as causas para isso ainda não sejam claras. A esclerose sistêmica é um tipo de esclerodermia que afeta diversos órgãos ao mesmo tempo (por isso “sistêmica”), e ainda não tem cura. Para controlar os sintomas se administra imunossupressores, drogas que inibem a atividade do sistema imune, mas eles costumam ter apenas um efeito limitado contra a doença.

O grupo da USP e da Universidade Diderot conduziram um ensaio clínico documentando em detalhe o perfil imunológico dos indivíduos. Uma das descobertas do estudo é que, antes do transplante, é preciso destruir totalmente o sistema imune do paciente. Pode parecer agressivo, mas essa é uma etapa comum antes de certos transplante de células-tronco, e parece crucial nesse caso. Dessa maneira, se garante que nenhuma das células do sistema imune original – aquele que atacava o paciente – sobreviva. Com o sistema “rebelde” antigo eliminado, as células-tronco recém transplantadas podem fazer seu trabalho e levar à remissão da doença. Embora promissores, esses tratamentos ainda são experimentais, e por isso não estão disponíveis para pacientes fora do contexto de um ensaio clínico. No entanto, esses resultados nos deixam um pouquinho mais próximos de uma nova opção de tratamento para a esclerose sistêmica.

 

Fontes​:

❏ Arruda, L. et al. Immune rebound associates with a favorable clinical response to autologous HSCT in systemic sclerosis patients. Blood Advances 2018 2:126-141

❏ ReumatoUSP. Esclerodermia: uma visão geral.

 


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