População de células-tronco descoberta nos alvéolos é ativada em caso de danos ao tecido – e estimular essas células pode ser uma estratégia para tratar doenças pulmonares que acometem desde recém-nascidos até pessoas idosas.
Quando falamos em células-tronco para tratamentos o mais comum é pensarmos na administração de células-tronco externas ao tecido danificado (seja do próprio indivíduo ou de um doador), como no uso de células-tronco embrionárias para regenerar o tecido pulmonar ou células-tronco pluripotentes induzidas para tratar asma, dois estudos pré-clínicos que nós já abordamos aqui no blog relacionados a doenças pulmonares.
Mas existe outra estratégia que também pode dar bons resultados: aproveitar a capacidade regenerativa inerente ao organismo, estimulando células-tronco específicas presentes no tecido. E é essa a linha de trabalho desenvolvida por pesquisadores da Penn’s Perelman School of Medicine e do Children’s Hospital of Philadephia (CHOP) que levou à descoberta de uma população de células-tronco nos alvéolos pulmonares com alta capacidade de expansão e regeneração tecidual em caso de lesão. Essas células foram chamadas de progenitoras do epitélio alveolar (AEP, na sigla em inglês).
O grupo vem mapeando os tipos celulares presentes nos alvéolos, bem como as interações entre as células e vias moleculares, a partir da ideia que entender melhor o funcionamento normal e patológico do tecido possa levar a abordagens inovadoras para o tratamento de doenças pulmonares. As células AEP foram identificadas primeiro em modelos animais – camundongos infectados com o vírus da gripe. Nessas condições, essas células, que antes estavam inativas, se multiplicaram e se diferenciaram em células maduras que regeneraram os alvéolos lesionados. Agora, os cientistas querem entender melhor os mecanismos envolvidos nesse processo para interferir diretamente nele e estimular a regeneração tecidual em diferentes doenças pulmonares.
O primeiro passo já foi dado: eles conseguiram identificar em seres humanos uma população de células semelhantes às AEP encontradas nos camundongos. As características genéticas e mecanismos moleculares são parecidos o suficiente nos dois casos para que os estudos realizados em camundongos possam ser úteis para a compreensão do funcionamento dessas células em seres humanos e para o desenvolvimento de tratamentos no futuro. Espera-se que essa abordagem possa beneficiar pacientes de todas as faixas etárias e acometidos por diferentes doenças associadas a danos no tecido alveolar ou problemas no desenvolvimento pulmonar.
Referências:
William J Zacharias et al. Regeneration of the lung alveolus by an evolutionary conserved epitelial progenitor. Nature. 2018.
Press Release: New Stem Cells Found in Lung, May Offer Target for Regenerative Medicine. Children’s Hospital of Philadelphia Research Institute. 28∕02∕2018