O impacto da fonte e idade de células-tronco no tratamento de lesão espinhal

O impacto da fonte e idade de células-tronco no tratamento de lesão espinhal

Estudo em roedores é o primeiro a comparar células-tronco mesenquimais do cordão umbilical em dois estágios de desenvolvimento e células-tronco mesenquimais da medula óssea no tratamento de lesão espinhal e conclui que idade do tecido doador é um fator importante para obtenção de melhores efeitos terapêuticos

Como nós já discutimos algumas vezes aqui no blog, diferentes tipos de células-tronco têm sido estudados nos últimos anos para desenvolver novos tratamentos para lesão espinhal, em uma tentativa de melhorar a qualidade de vida e a possibilidade de melhora de função motora e sensorial dos pacientes. Não temos estatísticas para o Brasil, mas mundialmente a cada um milhão de pessoas 30 a 40 delas sofrem lesão medular. Se essa taxa for parecida na população brasileira, podemos estimar entre 5 a 6 mil pessoas por ano com essa condição.

A maior parte das lesões medulares são do tipo traumática, ou seja, ocorrem devido a um impacto mecânico que leva à fratura da coluna vertebral e secção parcial ou completa da medula. Após o trauma, ocorre uma série de eventos secundários, como inflamação, ruptura vascular, morte celular, formação de cicatriz no tecido, entre outros. Intervenções terapêuticas que atuem em mecanismos relacionados a esses eventos podem melhorar as chances de recuperação dos pacientes, e uma das abordagens possíveis é o uso de células-tronco mesenquimais.

As células-tronco mesenquimais têm propriedades anti-inflamatórias e moduladoras do sistema imune e podem ser encontradas em diferentes locais, como medula óssea, cordão umbilical, tecido adiposo e polpa dos dentes. Sabemos pouco sobre a influência da fonte do tecido doador das células-tronco e também sobre o impacto que a idade do tecido doador pode ter sobre os resultados no tratamento de lesão espinhal.

O estudo liderado pelo pesquisador Michael Fehlings tem o objetivo de ajudar a esclarecer justamente essa questão. O grupo comparou a aplicação sistêmica de células-tronco mesenquimais do cordão umbilical em dois estágios do desenvolvimento (primeiro trimestre de gestão e final da gestação) e células-tronco da medula óssea em um modelo animal de lesão espinhal. Eles usaram também um grupo controle, que não recebeu nenhuma terapia celular.

No experimento, o grupo injetou as células em ratos uma hora após a lesão. Depois, ao longo de 10 semanas, eles fizeram testes semanais para acompanhar os efeitos fisiológicos e funcionais do tratamento.

Os resultados indicam que todos os três tipos de células-tronco usados foram capazes de reduzir a permeabilidade vascular e o volume da lesão, e também estiveram associados a melhoras na formação de cicatrizes. A análise de efeitos positivos sobre características do tecido mostrou resultados melhores nos grupos que receberam células-tronco mesenquimais da medula óssea e células-tronco do cordão umbilical no primeiro trimestre de gestação, com maior densidade vascular e preservação do tecido nervoso.

Mas, no que diz respeito à melhora funcional, somente as células-tronco mesenquimais do cordão umbilical do primeiro trimestre de gestação foram associadas a efeitos duradouros na função do membro dianteiro e no ganho de peso. Os autores interpretam esse resultado como uma evidência de que a idade do tecido doador pode ter uma influência importante sobre os efeitos terapêuticos, com uma maior eficácia das células-tronco do cordão umbilical do primeiro trimestre de gestação.

A equipe também avaliou os mecanismos pelos quais as células poderiam atuar. Eles não encontraram células transplantadas no local da lesão ou próximo ao local da lesão, indicando que esses efeitos são sistêmicos. Outros estudos apresentam evidências de que as células-tronco mesenquimais, quando injetadas na circulação, se distribuem principalmente para o pulmão e o baço, mas continuam a ter efeitos terapêuticos. Uma das possibilidades levantadas é que elas podem influenciar a atuação do sistema imune, que teria essas células como alvo em vez de células endógenas da área da lesão, minimizando alguns dos danos ao tecido lesionado. Outra possibilidade é que as células-tronco mesenquimais liberem citocinas anti-inflamatórias no baço, influenciando o recrutamento de células do sistema imune.


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