Pesquisadores americanos conseguem gerar células musculares de porcos a partir de células-tronco pluripotentes induzidas.
O trabalho abre caminho para testes de terapias para doenças musculares e também para a curiosa possibilidade de gerar alimentos em laboratório.
Já imaginou se pudessemos gerar hamburgueres em uma placa de petri de laboratório? E assim não mais precisar criar animais para para produção de carne? Deixaríamos de abater porcos e gado e também estaríamos contribuindo com o meio ambiente, uma vez que a pecuária é também causa de grande impacto ambiental. Pois é isso que se pode começar a vislumbrar a partir dos resultados do artigo do pesquisador Michael Roberts e sua equipe da Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, publicado agora em Fevereiro na revsita Scientific Reports (o artigo pode ser visto em: http://www.nature.com/articles/srep41833).
Usando células-tronco pluripotentes induzidas produzidas a partir de células de um embrião de porco, os cientistas conseguiram gerar, em laboratório, células musculares desses animais. As células-tronco pluripotentes induzidas são obtidas através de uma técnica especial que permite “reprogramar” uma célula adulta qualquer do corpo para um estado semelhante ao estado das células-tronco embrionárias. Ou seja, as células-tronco pluripotentes induzidas tem a capacidade de se transformar em qualquer tipo celular do organismo (e, por isso, são chamadas de pluripotentes).
Embora tenham essa capacidade, os cientistas ainda estão descobrindo como fazer as células pluripotentes se transformarem em tipos celulares específicos. Outro fator que complica o desenvolvimento destes protocolos de diferenciação celular é que às vezes eles podem funcionar para uma espécie, mas não para outras.
Assim, neste trabalho, o objetivo dos pesquisadores foi estabelecer um protocolo capaz de diferenciar as células-tronco pluripotentes induzidas de porcos em células musculares. Usando como base resultados de outros trabalhos e o conhecimento que existe sobre as vias de sinalização moleculares importantes para a diferenciação muscular, os cientistas foram testando vários químicos e diversas condições de cultivo, até encontrar a combinação adequada de compostos e de intervalos de tempo ideais para administração destes compostos capaz de gerar células musculares.
Para provar que eram verdadeiramente células musculares, além de avaliar se as características moleculares das células obtidas eram compatíveis com uma célula de músculo, os pesquisadores demonstraram que elas eram capazes de se contrair espontaneamente. Além disso, frente a estímulos específicos, as células apresentavam oscilações de entrada e saída de cálcio, uma característica que é fundamental para a capacidade contrátil da musculatura.
Obviamente que ainda temos muito a pesquisar antes que esses achados efetivamente levem a produção de algo que se assemelhe com a carne que consumimos, especialmente porque a carne que comemos não é apenas um amontoado de células musculares. A organização do tecido muscular é complexa, além de ser composto também por gordura, tecido vascular e diversos outros fatores que circulam no organismo que podem influenciar seu sabor e sua textura. Assim, é difícil saber ainda se poderemos um dia chegar a esta “receita perfeita”. Mas certamente este foi um valioso passo.
Porém uma aplicação importante dessa descoberta, e que é mais próxima da realidade atual, é que ela irá possibilitar o estudo do uso dessas células para tratamento de doenças musculares em um modelo animal de porte mais semelhante ao humano, o que é de extrema importância no desenvolvimento de estratégias terapêuticas usando células-tronco.