Células-tronco contra a morte (ou, pelo menos, por mais longevidade)

Células-tronco contra a morte (ou, pelo menos, por mais longevidade)

A startup Celularity é a mais nova empresa de longevidade do vale do silício, um lugar onde bilionários da tecnologia apostam em células-tronco para tornar a velhice uma doença tratável e a morte, opcional.

 

Do que as pessoas morrem hoje em dia? De velhice. Ou melhor, de doenças associadas ao envelhecimento – mais especificamente, de doenças cardiovasculares, cânceres, doenças respiratórias e diabetes. Juntas, essas doenças respondem por mais de 70% das mortes do mundo. Em países como o Brasil, onde homicídios e acidentes de trânsito são frequentes, um pouco menos; ainda assim, essas quatro causas juntas respondem por mais de 60% das mortes no país. No Vale do Silício, no entanto, tem cada vez mais gente vendo essas doenças não como entidades isoladas, mas como sintomas de uma única patologia: a velhice. E é essa a doença que eles querem curar, com auxílio das células-tronco.

 

Células-tronco parecem ter um papel de honra no envelhecimento (ou falta dele), já que elas são cruciais para a regeneração dos nossos tecidos. No entanto, é difícil descobrir exatamente quais os fatores por trás da replicação e diferenciação de células-tronco no nosso corpo – ou como controlá-los. Algumas das estratégias “anti-morte” ou “pró-longevidade” sendo exploradas, como a edição de genes ou controle epigenético, provavelmente afetam indiretamente as células-tronco. Mas muitas empresas e investidores preferem investigar como controlar essas células diretamente.

 

O caso mais recente é o da empresa Celularity, uma startup que recebeu 250 milhões de dólares para investigar o uso de células-tronco da placenta como ferramenta para aumentar a longevidade humana. A ideia é usar essas células-tronco, que seriam equivalentes às embrionárias, para criar órgãos e tecidos humanos sem as implicações éticas da destruição de um embrião. A empresa afirma ainda que essas células não causam rejeição e que espera ter um produto aprovado pelo FDA em 1 a 2 anos. Embora já tenha diversos ensaios clínicos em andamento, parece um planejamento excessivamente otimista – mas não inesperado no vale do silício. Acostumados com a velocidade das transformações digitais, muitos dos bilionários da tecnologia ingressam na área de biotecnologia esperando a mesma rapidez e “disrupção” que um aplicativo ou gadget tem. Normalmente eles descobrem que biologia, no entanto, não é um app, e nosso corpo não necessariamente um computador ou programa que pode ser rapidamente hackeado.

 

Ainda que os resultados demorem, há razões para otimismo. Os últimos anos viram um ressurgimento da pesquisa (séria) sobre longevidade, e o resultado de tantos anos de pesquisa em envelhecimento, reparo de DNA e células-tronco pode finalmente começar a trazer frutos. Senão a imortalidade, pelo menos um final de vida mais saudável pode estar no horizonte próximo.

Fontes​:

https://ourworldindata.org/what-does-the-world-die-from

● Molteni, M. Peter Diamandis Is the Latest Tech Futurist Betting on Anti-Aging Stem Cells. Wired, 02/15/18

● Friend, T. Silicon Valley’s Quest to Live Forever. New Yorker, 03/04/17


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