Células-tronco e distrofia muscular de Duchenne: mais perto da cura?

Células-tronco e distrofia muscular de Duchenne: mais perto da cura?

Estudo pré-clínico com células-tronco realizado por cientistas americanos dá um passo importante para nos aproximar de uma terapia celular para distrofia muscular de Duchenne

 

Nós já falamos aqui sobre distrofias musculares e como as células-tronco poderiam ajudar e, hoje, vamos focar um pouco em um estudo pré-clínico recente que foi feito com o objetivo de desenvolver uma terapia celular para a distrofia muscular de Duchenne. Publicado na prestigiada revista Nature Cell Biology, o estudo, realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, mostra como os autores desenvolveram células musculares sadias a partir de células-tronco de pacientes portadores da distrofia muscular de Duchenne e, depois, usaram essas células para tratar modelos animais.

Há algum tempo se trabalha para produzir células musculares a partir de células-tronco em laboratório – o que poderia ser benéfico para tratar diversas doenças musculares –, mas o grupo, liderado pelo professor April Pyle, descobriu que as células musculares geradas pelos protocolos anteriores eram imaturas, inadequadas para modelar a doença em laboratório e usar em terapias. Eles descobriram como identificar e isolar células-tronco musculares maduras e funcionais que possam ser, de fato, usadas com sucesso em uma tentativa terapêutica.

Como isso foi possível? Analisando cuidadosamente o desenvolvimento humano. A equipe estudou os estágios naturais do desenvolvimento embrionário humano e descobriu uma população de células-tronco musculares com excelente capacidade regenerativa – com essas informações, eles aprenderam a isolar as células produzidas em laboratório de maneira mais eficiente. Foi também olhando para o desenvolvimento natural humano que eles descobriram como manipular as células para que elas dessem origem a fibras musculares fortes, com alta capacidade de contração.

Mas os pesquisadores não pararam por aí. O objetivo deles é desenvolver um tratamento para pessoas com a distrofia muscular de Duchenne usando as células do próprio paciente. Para modelar esse procedimento em laboratório, os pesquisadores usaram células de um paciente com Duchenne e reprogramaram essas células para se tornarem células-tronco pluripotentes induzidas. Em seguida, eles usaram edição genética (tecnologia CRISPR-Cas9) para remover a mutação que causa a doença e, então, isolaram as células-tronco musculares e as injetaram em camundongos cujas células não eram sadias. Ou seja, eles realizaram o procedimento que seria realizado com pacientes humanos em uma terapia – só que, primeiro, com os modelos animais, para ver se é seguro e se funciona o suficiente para justificar os riscos de fazer o mesmo teste em seres humanos.

Deu certo. As células injetadas se desenvolveram em células musculares funcionais e com características semelhantes às de células sadias. A equipe vai continuar as pesquisas, na tentativa de gerar células musculares que possam proteger de lesões no longo prazo, e a nova estratégia para gerar células-tronco musculares a partir de células-tronco pluripotentes induzidas está no processo de ser patenteada, com os pesquisadores Michael Hicks e April Pyle como co-inventores.

Referências:


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