A doença de Alzheimer leva à perda progressiva da memória, atenção e linguagem, sendo a forma mais comum de demência senil. O uso de células-tronco, tanto para entendermos quanto para tratarmos a doença de Alzheimer tem enorme potencial, mas ainda há muito a ser estudado nos próximos anos.
Células-tronco e doença de Alzheimer: em que ponto estamos?
Ainda não existem terapias com células-tronco aprovadas para tratar a doença de Alzheimer. E nsaios clínicos envolvendo células-tronco e doença de Alzheimer são muito recentes: nos EUA, os primeiros testes começaram apenas no ano passado. Isso significa que os estudos ainda estão em fase inicial, recrutando pacientes com a principal finalidade de demonstrar que a terapia é segura. Ainda demorará alguns anos para sabermos se, além de seguras, terapias com células-tronco de fato funcionam. Os estudos investigam majoritariamente o uso de células-tronco mesenquimais para tratamento da doença. Esse tipo de célula-tronco pode atuar de pelo menos duas maneiras contra a doença: dando origem a novos neurônios ou atuando como potentes agentes anti-inflamatórios.
Como as células-tronco podem ajudar?
Células-tronco e doenca de Alzheimer: pesquisa
Muito melhor do que fazer experimentos com animais é acompanhar a evolução da doença em um cérebro humano. E, felizmente, esse cérebro não precisa estar dentro da cabeça de ninguém. Atualmente, células-tronco de pacientes com a doença podem ser cultivadas em laboratório. A partir de uma pequena amostra de células-tronco do paciente, cientistas podem crescer um grande número de células cerebrais. É possível que, em breve, se possa até mesmo gerar um cérebro completo, que exiba exatamente as mesmas características do doador das células, em laboratório. Dessa forma, será possível acompanhar a evolução da doença, entender melhor as suas causas e testar novos medicamentos de modo muito mais confiável e eficaz. E o que é melhor: dá até para planejar tratamentos personalizados.
Outra possibilidade é modificar geneticamente células-tronco de pessoas saudáveis, para descobrir quais genes ou estímulos ambientais levam às alterações cerebrais associadas à doença. É possível bloquear a atividade de um gene, ou tornar um gene hiperativo, e acompanhar como isso altera o desenvolvimento do cérebro. Isso pode ajudar os cientistas a entenderem como – e quando – o Alzheimer começa. Embora os sintomas mais graves só apareçam na terceira idade, existem indícios de que o Alzheimer interfere na forma como o cérebro se desenvolve desde o início da vida. Estudar células-tronco em laboratório já permite entendermos muitas dessas questões e ainda nos ajudará a esclarecer muitas outras, que atualmente estão em aberto.
Células-tronco embrionárias, induzidas à pluripotência e certas células-tronco mesenquimais, como as células-tronco da polpa do dente de leite, podem se transformar em neurônios em laboratório e, portanto, podem ser usadas para essa finalidade.
Células-tronco e doenca de Alzheimer: tratamento e cura
Células-tronco podem ajudar no tratamento ou mesmo na cura da doença de Alzheimer de pelos menos três maneiras diferentes:
- Atividade neurotrófica e neuroprotetora. Células-tronco podem liberar compostos que restauram o funcionamento cerebral normal. Neurotrofinas são moléculas que ajudam os neurônios a crescer e a sobrevi ver. O nome vem do grego n euro, nervo, e trophikós, relativo à nutrição, ou seja, elas são, literalmente, “comida de neurônio”. Em pacientes com a doença de Alzheimer, a produção de neurotrofinas é baixa. C élulas-tronco progenitoras neurais são capazes de produzir essas moléculas e poderiam ser implantadas no cérebro de pacientes para ser uma fonte de neurotrofinas. Injeção dessas células em camundongos que manifestavam sintomas da doença de Alzheimer mostrou melhoras na memória dos animais.
- Atividade anti-inflamatória. Células-tronco, particularmente c élulas-tronco mesenquimais , têm potente ação anti-inflamatória. Um aspecto interessante das células-tronco mesenquimais é que elas podem migrar automaticamente para os locais onde há inflamação: por isso, a simples injeção dessas células em um vaso de fácil acesso melhora sintomas da doença de Alzheimer em camundongos, sem necessidade de nenhuma intervenção cerebral. No entanto, ainda não está claro o quão importante essa ação anti-inflamatória é para o tratamento de Alzheimer, ou se as células-tronco mesenquimais estão exercendo outros efeitos adicionais não identificados.
- Transporte de medicamentos. Como células-tronco mesenquimais e progenitoras neurais são capazes de migrar para áreas com inflamação, elas podem ser usadas para transportar medicamentos especificamente para essas áreas. Elas também podem ser geneticamente modificadas para superexpressar neurotrofinas ou outras moléculas de interesse.
Saiba mais sobre a doença de Alzheimer
O que é Alzheimer?
A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência senil. A doença leva à perda progressiva da memória, atenção, linguagem e outras funções cognitivas. No Brasil, são cerca de 1,2 milhão de casos, e estima-se que, até 2050, o número de casos triplique. Além dos pacientes, a doença também causa um impacto significativo nos cuidadores, que sofrem com repercussões emocionais e financeiras da doença sobre a família.
Se você ou alguém próximo cuida de um familiar com Alzheimer, procure se informar sobre grupos de apoio e suporte psicológico ao cuidador familiar. Sites como o da Associação Brasileira de Alzheimer e do Instituto Alzheimer Brasil orientam sobre o tema.
O que causa a doença?
Ainda não se sabe ao certo. Acredita-se que a causa da doença esteja relacionada a duas proteínas, chamadas beta-amiloide e tau. Essas proteínas fazem parte do cérebro saudável; a proteína beta-amiloide, por exemplo, atua no transporte de colesterol e na proteção contra radicais livres. Nos pacientes com a doença de Alzheimer, no entanto, sua produção sai do controle e leva à formação de estruturas anômalas. Excesso de proteína beta-amiloide gera placas senis, e a hiperfosforilação da proteína tau gera e maranhados neurofibrilares. Essas anomalias se acumulam ao longo de muitos anos, em diferentes regiões do cérebro, e causam perda progressiva de neurônios nesses locais. Essas regiões são as responsáveis por funções cognitivas complexas, como memória e linguagem, as mais severamente afetadas pela doença.
Quais tratamentos estão disponíveis?
Não existe cura para a doença de Alzheimer. Os tratamentos atuais permitem apenas que a doença progrida mais lentamente. Os principais medicamentos são anticolinesterásicos, drogas que previnem a degradação do neurotransmissor acetilcolina. A acetilcolina é importante para a comunicação neuronal, que por sua vez é importante para manter neurônios vivos.
Existe intensa pesquisa em novos tratamentos contra o Alzheimer, e diversos medicamentos novos têm sido testados em ensaios clínicos, mas até agora sem sucesso. A falta de resultados positivos pode ser devido à falta de um bom modelo para se estudar a doença em laboratório . Cientistas normalmente se baseiam em estudos com animais, principalmente camundongos, para compreender melhor as doenças humanas e como tratá-las. No entanto, as faculdades mais comprometidas em pessoas com doença de Alzheimer, como memória declarativa e linguagem, são faculdades que os camundongos nunca tiveram! Por isso, a pesquisa com células-tronco pode fazer toda a diferença para encontrar tratamentos mais eficazes ou a cura para a doença de Alzheimer.
Fontes:
Associação Brasileira de Alzheimer
Instituto Alzheimer Brasil
EuroStemCell
Harvard Stem Cell Institute
Wesley W. Chen & Mathew Blurton-Jones. Concise Review: Can Stem Cells be used to Treat or Model Alzheimer Disease? Stem Cells. 2012 Dec; 30(12): 2612–2618. doi:1 0.1002/stem.1240 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3508338/