Novo estudo mostra que células-tronco humanas implantadas em ratos com lesão espinhal têm efeitos prolongados.
Cientistas da Universidade da Califórnia acabaram de fazer uma descoberta importante para o planejamento de estudos clínicos utilizando células-tronco para o tratamento de lesão espinhal: as células transplantadas em ratos apresentaram crescimento e maturidade em ritmo constante e prolongado, seguindo uma taxa compatível com a velocidade da fisiologia humana, com recuperação funcional observada um ano após o transplante.
Esse resultado é muito interessante pois os ratos, que são utilizados em diversos estudos pré-clínicos necessários para que as pesquisas cheguem ao estágio clínico, têm uma fisiologia com velocidade bastante diferente da humana. Apenas para termos uma ideia, o período de gestação humano é de 280 dias, nos roedores esse período é de 21 dias; o cérebro de uma criança humana de 2-3 anos de idade é comparável ao de um rato de 20 dias de idade. Dessa forma, seria possível que os transplantes de células-tronco feitos em ratos mostrassem resultados em uma janela temporal também muito diferente da humana. Não é o caso: de acordo com o estudo, publicado na revista The Journal of Clinical Investigation, as células-tronco transplantadas para ratos com lesão espinhal têm um período de maturação e desenvolvimento que chega a 18 meses.
Os pesquisadores utilizaram uma linhagem comum e bem caracterizada de células-tronco neurais derivadas de células-tronco embrionárias. Essas células foram modificadas para expressar uma proteína fluorescente verde e colocadas em matrizes de fibrina contendo fatores de crescimento. Essas matrizes foram, então, transplantadas para ratos que tinham sofrido lesão espinhal há duas semanas e tinham o funcionamento do membro anterior prejudicado. Um grupo controle foi submetido a um procedimento semelhante, mas sem as células-tronco neurais.
O crescimento e o desenvolvimento dos enxertos transplantados foi monitorado por meses, tendo sido observado um crescimento inicial não refinado, mas, após alguns meses, havia marcadores de células nervosas. Conforme mais tempo se passou, as células continuaram a passar por um desenvolvimento gradual, com a formação de menos células, mas mais maduras. E só após esse estágio começou a ser observada uma melhora funcional. Ou seja: para avaliar a eficácia de terapias com células-tronco para lesão espinhal utilizando ratos como modelo, são necessários estudos mais longos.
Um outro resultado do estudo importante para o planejamento de estudos clínicos com seres humanos é que nenhuma das células-tronco neurais do enxerto migrou da área de lesão – mas algumas células de suporte (astrócitos) migraram. Não houve formação de tumores ou estruturas anômalas por essas células, o que indica que o problema pode ser solucionado em estudos futuros. Esse aspecto é importante para avaliar a segurança de tratamentos com essa abordagem. Considerando o ótimo potencial do uso das células-tronco neurais no tratamento de lesão espinhal, com alguns estudos clínicos já em andamento, esses resultados podem ajudar a desenvolver estudos clínicos mais eficientes e acelerar a disponibilização dessa terapia.
Referência: Lu P, Ceto S, Wang Y, Graham L, Wu D, Kumamaru H, Staufenberg E, Tuszynski MH. Prolonged human neural stem cell maturation supports recovery in injured rodent CNS. The Journal of Clinical Investigation. 2017