Estudos apontam que células-tronco podem acabar com testes em animais
Infelizmente, ainda não existe nenhum jeito de testar um novo medicamento sem testes em animais. Até agora. No entanto, estudos apontam que células-tronco podem acabar com testes em animais! Elas podem vir a ser uma ferramenta essencial para testar novos medicamentos de forma rápida, segura, e sem sacrificar vidas, humanas ou animais.
stima-se que colocar um medicamento novo no mercado custa em torno de 1 bilhão de dólares e demora, em média, 10 anos. De fato, não é tarefa fácil. Depois que um novo fármaco é descoberto, ele precisa passar por uma longa bateria de experimentos em laboratório que validem a sua eficácia e segurança, incluindo testes em animais, até poder ser testado em humanos. Além da controvérsia ética, testes em animais não são ideais porque são feitos, bem, em animais. Ratos e camundongos são semelhantes a nós, mas não são idênticos: medicamentos que não são tóxicos para eles podem ser tóxicos para nós, e vice-versa. Talidomida é um exemplo clássico de uma droga segura para roedores, mas com efeitos colaterais graves para humanos.
Células-tronco podem acabar com testes em animais – isso porque elas podem ser testadas isoladamente ou usadas para gerar órgãos completos. E o que é melhor: cada célula-tronco mantém as características da pessoa que as doou. Portanto, dá para saber se um medicamento vai ter efeito diferentes em mulheres, por exemplo, fazendo testes com células que vieram de doadoras mulheres e comparar com o resultados de células de doadores homens. Pode-se testar apenas células de doadores com diabetes tipo II, ou com doença cardíaca por exemplo. É fácil coletar essas células – em muitos casos, basta uma amostra de sangue – e elas podem ser testadas em laboratório.
Essa oportunidade não existia anteriormente porque não havia muitas fontes de células-tronco além de embriões. Nos últimos anos, no entanto, diversas descobertas importantes foram feitas. Uma delas são as células-tronco pluripotentes induzidas, chamadas de iPSCs (do inglês, induced pluripotent stem cells), que são células adultas que voltam a se comportar como as células-tronco que um dia elas já foram. Também foram descobertas novas fontes de células-tronco, como o tecido adiposo e a polpa do dente de leite. Essas descobertas permitem que qualquer pessoa obtenha células-tronco suas em qualquer fase da vida.
Essa é uma verdadeira revolução para a descoberta de novos medicamentos. Afinal, o ideal é que um medicamento para humanos seja testado em células e órgãos humanos, e não com base em testes em animais. Além disso, testes in vitro são muito mais baratos e rápidos. Portanto, vai ser muito mais fácil trazer novos medicamentos para a prateleira das farmácias.
E ainda há um terceiro benefício do uso de células-tronco para testar novos medicamentos: a facilidade de escolher uma população representativa do público-alvo do novo remédio. Idealmente, um medicamento que vai ser comercializado no Brasil deveria ser testado em brasileiros, não em um grupo de escandinavos, certo? Podem existir diferenças genéticas significativas entre as duas populações, e a eficácia e o perfil de efeitos colaterais de um determinado medicamento pode acabar sendo diferente também. Nem sempre isso é possível, no entanto. Como muitas empresas farmacêuticas e institutos de pesquisa de ponta se encontram na América do Norte e Europa, muitos medicamentos novos são testados principalmente em caucasianos. O Brasil tem uma população altamente miscigenada, e os resultados dos testes em populações caucasianas relativamente homogêneas podem não se aplicar tão bem a nós.
Para enfrentar esse problema, um grupo de pesquisadores brasileiros, liderados pela Prof. Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo, criou uma biblioteca de células-tronco nacional. Essa biblioteca reflete a diversidade genética brasileira, apresentando entre 14,2% e 95% de ancestralidade europeia; entre 1,6% e 55% de ancestralidade africana; e entre 7% e 56% de características indígenas. Essa biblioteca facilita – e muito – que medicamentos novos sejam testados na nossa população, mesmo que eles tenham sido desenvolvidos em outros países.
Células-tronco podem acabar com testes em animais
Com o avanço da tecnologia, células-tronco serão cada vez mais utilizadas para realizar testes em células e órgãos humanos completos, diminuindo a necessidade de testes em animais. E o que é melhor, essas células podem ser oriundas de uma população representativa da diversidade nacional. Ótimo para nós – e nada mal para os animais de laboratório.
Leia mais sobre a iniciativa da USP aqui: http://agencia.fapesp.br/grupo_da_usp_cria_colecao_de_celulastronco_com_caracteristicas_geneticas_brasileiras/24217/