Tratamento com vesículas extracelulares geradas a partir de células-tronco neurais humanas teve bons resultados em modelos animais de AVC e pesquisadores da Universidade da Geórgia, em conjunto com a startup ArunA Biomedical, planejam ensaio clínico já para o próximo ano.
As células-tronco são uma grande promessa para futuras terapias em casos de AVC, uma condição para a qual ainda há poucas alternativas disponíveis e com eficácia limitada. Essa é uma das principais causas de mortes e incapacidade do mundo e, no Brasil, a primeira, correspondendo a 10% dos óbitos e 10% dos diagnósticos de internações hospitalares. Por isso, o novo tratamento em estudo – batizado de AB126 – tem o potencial de mudar a situação de muitas pessoas, se resultados similares forem obtidos nos testes em seres humanos.
Em um primeiro momento, os pesquisadores usaram vesículas extracelulares de dois tipos de células-tronco derivadas da mesma linhagem de células pluripotentes: células-tronco neurais e células-tronco mesenquimais. Nessa etapa, eles observaram que efeitos terapêuticos significativos eram atingidos apenas com as vesículas das células-tronco neurais e, portanto, passaram a utilizar essas últimas em um teste com 48 camundongos (24 no grupo controle e 24 modelos de AVC) de cerca de 18 meses de idade (isso significa meia-idade para esses animais).
A intervenção resultou em uma diminuição significativa no tamanho da área tecidual lesionada e na perda de tecido cerebral, possivelmente por mecanismos que envolvem a modulação da resposta imune. Efeitos positivos também foram observados na função sensoriomotora e na formação de memórias.
Os efeitos positivos dessa tentativa terapêutica foram replicados pelo professor Franklin West em um modelo suíno de AVC, apresentando mais evidências a favor da condução de testes em humanos.
De fato, a AruanA Biomedical tem planos de iniciar ensaios clínicos com essa metodologia em 2019, de acordo com press release publicado pela Universidade da Geórgia. A empresa teria condições de produzir o tratamento em escala suficiente para atender às demandas clínicas preliminares e pretende, também, iniciar estudos pré-clínicos em epilepsia, lesão cerebral traumática e lesões espinhais até o final de 2018.
Além disso, nós já falamos aqui, recentemente, sobre outra tecnologia de uso das células-tronco em casos de AVC, transplantando células-tronco não hematopoiéticas da medula óssea, o que aumenta a janela terapêutica de 4 para 36 horas – esses testes já estão sendo feitos em humanos e, se comprovada a segurança e a eficácia, podem melhorar muito o prognóstico dos pacientes.
Referências:
Webb RL et al. Human Neural Stem Cell Extracellular Vesicles Improve Tissue and Functional Recovery in the Murine Thromboembolic Stroke Model. Translational Stroke Research. 2017.
UGA Today – Stem-cell based stroke treatment repairs brain tissue
Ministério da Saúde – Acidente Vascular Cerebral – AVC