Novos tratamentos com células-tronco prometem ser arma contra as temidas sequelas pós-AVC
Em caso de acidente vascular cerebral (AVC), faz toda a diferença saber quais são os sintomas e agir depressa: a partir do momento que os sintomas aparecem, o paciente tem apenas de 3 a 4 horas para receber tratamento. Após esse período, aumenta muito a chance do paciente apresentar sequelas pós-AVC, como dificuldades motoras e de fala. Essa janela de tempo é tão estreita que menos de 10% dos pacientes recebe cuidado a tempo. Novos tratamentos com células-tronco sendo atualmente investigados poderiam estender a janela de tratamento para até 36 horas, e aumentar a proporção de pacientes tratados para mais de 90%.
A pressa no atendimento é tão importante por causa do modo como nosso corpo reage a um acidente vascular. O AVC é uma alteração na circulação sanguínea que interrompe o fluxo de sangue normal para as células nervosas. Em minutos, as células afetadas começam a morrer. O sistema imune é então ativado e corre para a região lesionada, onde células imunes limpam os restos de células mortas e, possivelmente, liberam sinais que ajudam na recuperação cerebral. No entanto, a participação imune não é só boa: essas mesmas células imunes podem desencadear um processo inflamatório tão intenso que acabam danificando os neurônios sobreviventes. E um sistema imune hiperativo pode chegar a um estado de “esgotamento” sistêmico, deixando o corpo todo mais vulnerável a doenças, principalmente pulmonares. Os tratamentos atuais não são muito eficazes depois que o sistema imune entra nessa fase de hiperativação, por isso essa janela de apenas poucas horas para a administração do tratamento.
Células-tronco são consideradas excelentes candidatas a um tratamento mais efetivo para AVC, mas achar a “formulação” certa é um desafio. Qual célula, qual dose, qual modo de administração? Um dos candidatos mais adiantados nessa corrida por novos tratamentos é uma terapia com células-tronco da medula óssea chamada de MultiStem. Cada dose dessa terapia contém 1.2 bilhões de células-tronco capazes de equilibrar a hiperativação imune que causa inflamação local e infecções sistêmicas, ao mesmo tempo em que provavelmente também facilita o processo de reparo. Os resultados disponíveis até o momento mostram que a terapia é efetiva se administrada até 36 horas após o início do AVC – um grande ganho perto das 3-4 horas atuais. Uma das características mais interessantes desse tratamento é que ele é “pronto para usar”. Isso porque tratamentos com células-tronco podem ser autólogos (células do próprio paciente) ou alogênicos (células de um outro indivíduo doador); no caso do MultiStem, o tratamento é alogênico. Uma das vantagens desse tipo de tratamento é a velocidade. Não é necessário extrair, processar, e reinjetar as células do paciente no próprio paciente; basta descongelar o medicamento e usar. Apesar de serem alogênicas, essas células não hematopoiéticas da medula óssea não causam rejeição, e por isso não precisam de um doador compatível ou de imunossupressores. Essa terapia já está sendo testada em humanos, sendo que mais uma fase de ensaios clínicos está prevista para começar agora, no início de 2018, nos EUA.
Fontes:
❏ Berkrot B. Tiny stem cell companies close in on major heart disease goals. Reuters, 18/12/17
❏ Chess D et al. Safety and efficacy of multipotent adult progenitor cells in acute ischaemic stroke (MASTERS): a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 2 trial. The Lancet Neurology, Volume 16, No. 5, p360–368, May 2017