Mesma população de células-tronco foi capaz de regenerar diferentes partes do tecido de pulmões nos modelos animais.
Durante o desenvolvimento embrionário, temos muitas células-tronco multipotentes no organismo – capazes de dar origem à maior parte dos tecidos. Na fase adulta, no entanto, a população de células-tronco multipotentes se reduz e boa parte dos tecidos conta com células-tronco mais especializadas, conhecidas como progenitoras, que dão origem apenas a tipos específicos de células. No caso dos pulmões, por exemplo, há duas subdivisões principais do tecido: o das vias aéreas e o dos alvéolos, cada um contando com células-troncos de linhagens específicas para a manutenção da homeostase.
Uma equipe de cientistas do Instituto Genoma de Singapura e da Universidade de Stanford nos Estados Unidos publicou na revista Nature Methods o resultado de um trabalho para otimizar práticas de medicina regenerativa no futuro: o uso de uma única população de células-tronco multipotentes para regenerar essas duas partes do tecido pulmonar em camundongos. Nesse estudo, foram utilizadas células-tronco embrionárias que existem apenas nesse estágio e dão origem tanto às vias aéreas como aos alvéolos, as células Sox9 + . Eles isolaram essas células, e em seguida as multiplicaram e implantaram em pulmões com danos por intoxicação para verificar se elas formavam enxertos nos tecidos.
E, sim, foi isso mesmo que aconteceu: as células-tronco se diferenciaram tanto nas linhagens de células das vias aéreas, como nas linhagens de células do alvéolos, in vitro e in vivo. São necessários mais estudos para investigar se essas células melhoram a função pulmonar após lesão, e em que condições isso acontece. São necessários, também, mais estudos para verificar a existência de células progenitoras Sox9+ nos pulmões humanos durante o desenvolvimento, e se o uso dessas células seria uma alternativa para regenerar os pulmões em adultos.
Avanços como esse podem contribuir em pesquisas para melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas que sofrem com doenças pulmonares, como infecções virais, asma, fibrose cística e fibrose pulmonar idiopática. Em casos de doenças em estágio terminal, hoje apenas o transplante de órgão pode ajudar de fato os pacientes. No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, entre janeiro e setembro de 2017 foram realizados 76 transplantes de pulmão e 24 pessoas morreram esperando por um. Em setembro de 2017 havia 158 pacientes ativos em Lista de Espera. A medicina regenerativa pode ser uma alternativa que ajude a melhorar esses índices no futuro.
Se você se interessou pelo assunto, talvez goste de ler sobre o estudo pré-clínico que utilizou células-tronco mesenquimais para tratar asma, com resultados positivos. Já para entender melhor os potenciais de diferenciação de tipos de células-tronco, você pode ler o resumo que temos também aqui no Tudo Sobre Células-Tronco.
Referências:
Massimo N, Javed A, Sivakamasundari V, Ganesan M, Ang LT, Kraus P, Lufkin T, Loh KM, Lim B. Isolation and 3D expansion of multipotente Sox9+ mouse lung progenitors. Nature Methods. 2017. Associação Brasileira de Transplante de Órgãos