Células-tronco sanguíneas provêem imunidade a longo prazo contra o HIV

Células-tronco sanguíneas provêem imunidade a longo prazo contra o HIV

Modificação genética de células-tronco precursoras das células imunes protegeu macacos contra HIV por mais de dois anos – e pode ser nova estratégia contra tumores e infecções

O sistema imune evoluiu para identificar e atacar ameaças com grande especificidade e agressividade – mas seus alvos, por sua vez, evoluíram para escapar do sistema imune. Alguns parasitas são tão arrojados que infectam as nossas próprias células de defesa, impunemente – como é o caso do HIV. É o tipo de situação onde o sistema imunológico pode se beneficiar de uma ajudinha externa para conseguir fazer bem o seu trabalho. É por isso que temos falado tanto das células CAR-T aqui no site. Essas células se baseiam em um tipo de célula imune – os linfócitos T – geneticamente modificada para facilitar a identificação e/ou um ataque mais agressivo contra um determinado alvo.

Mas existem situações em que nem as células CAR-T parecem funcionar. Ensaios clínicos com células CAR-T no tratamento do HIV, por exemplo, mostraram que elas são seguras, mas pouco eficazes. Não se sabe por que razão o tratamento é tão pouco eficaz, mas o fato de o HIV infectar especificamente células imunes pode ser um fator complicador: nesses estudos, o mesmo receptor que possibilita às células CAR-T identificar (e atacar) o vírus as torna suscetíveis à infecção pelo HIV. Além disso, células imunes maduras, incluindo CAR-T, não vivem para sempre; nosso corpo está constantemente eliminando células mais antigas (e menos eficazes) por células jovens. Mas nosso corpo não produz novas células CAR-T; quando o organismo recicla células imunes, ele elimina células CAR-T e gera novas células T convencionais, que não conseguem lidar com o HIV adequadamente. Portanto, uma única administração de células CAR-T pode não ser suficiente para eliminar completamente o vírus.

Para contornar esses obstáculos, cientistas das universidades da Califórnia, Washington e Maine decidiram utilizar uma abordagem diferente. Em vez das células imunes adultas, eles modificaram geneticamente as células precursoras das células imunes. Essas precursoras são células-tronco hematopoiéticas, que se localizam na medula óssea e dão origem às diversas células do sistema imunológico. Essa é uma boa maneira de alcançar imunidade a longo prazo, já que alterações genéticas nessas células-tronco precursoras irão afetar todas as suas descendentes.

Os pesquisadores inseriram as células-tronco modificadas em macacos e mostraram que essas células sobreviveram e se diferenciaram como esperado, dando origem a células imunes funcionais – e capazes de destruir células infectadas pelo HIV. Ainda melhor, essas células modificadas foram capazes de entrar em grande número em tecidos linfoides, que costumam funcionar como reservatórios para o HIV. Como consequência, os animais se mantiveram protegidos do HIV por pelo menos dois anos. Se resultados semelhantes forem obtidos em humanos, essa técnica pode ser usada para obter imunidade duradoura contra diversos tipos de doença, incluindo tumores e doenças infecciosas.

Fontes​:

❏ Zhen A et al. Long-term persistence and function of hematopoietic stem cell-derived chimeric antigen receptor T cells in a nonhuman primate model of HIV/AIDS. PLoS Pathog 13(12): e1006753 (2017)

 


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