Descoberta sobre células-tronco neurais dormentes pode melhorar capacidade regenerativa do cérebro

Descoberta sobre células-tronco neurais dormentes pode melhorar capacidade regenerativa do cérebro

A maioria das células-tronco neurais dormentes no cérebro das moscas Drosophila estão em uma fase do ciclo celular diferente da que se acreditava – e, devido às semelhanças genéticas entre elas e os seres humanos, isso pode se traduzir em estratégias terapêuticas que envolvem a ativação dessas células.

 

Sim, em primeiro lugar, acredite: as moscas-da-fruta (que pertencem ao gênero Drosophila) são um excelente modelo para estudos pré-clínicos quando se trata de genética: o nosso DNA é muito parecido e estima-se que 60% dos genes humanos estejam, também, presentes nesses organismos. Assim, existe uma boa chance de que as descobertas apresentadas por cientistas da Universidade de Cambridge na última edição da revista Science sejam válidas para nós também.

Se você se lembra das aulas de biologia, sabe que o ciclo de vida de uma célula envolve diferentes fases – grosso modo, pode-se falar em uma fase em que não há divisão celular visível (interfase) e uma fase em que é possível visualizar aspectos morfológicos da divisão celular (mitose). As células passam a maior parte do tempo na interfase que é, por sua vez, subdividida em G1 (crescimento celular), S (duplicação do material genético) e G2 (rápido crescimento celular e preparação para a mitose). Além disso, é possível observar um estágio chamado G0, que não ocorre com todas as células – é um estado de repouso, em que as células não entram em um processo de divisão celular.

Até a publicação do estudante de doutorado Leo Otsuki e do professor Andrea Brand, acreditava-se que as células-tronco neurais dormentes do cérebro estavam na fase G0. Mas os pesquisadores mostraram que, na verdade, a maior parte dessas células está na fase G2. E, ainda, que essas células na fase G2 podem ser ativadas bem mais rápido do que as células que estão na fase G0, por um mecanismo que envolve a via de sinalização da insulina.

Se esses resultados forem confirmados, e os mecanismos compreendidos também em seres humanos, pode ser possível desenvolver uma estratégia terapêutica para ativar as células-tronco neurais dormentes presentes no cérebro para tratar doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson, ou tentar regenerar áreas lesadas em casos de AVC, por exemplo. Isso sem falar na possibilidade de descoberta de células-tronco dormentes em outros órgãos, ampliando ainda mais as possibilidades de estimulação da capacidade regenerativa inerente ao organismo para o desenvolvimento de terapias. De fato, já falamos aqui sobre uma população de células-tronco identificada nos alvéolos pulmonares que poderia ser alvo desse tipo de abordagem.

Referências:

Otsuki L., Brand AH. Cell cycle heterogeneity directs the timing of neural stem cell activation from quiescence. Science. 2018.

Background on Comparative Genomic Analysis – National Human Genome Research Institute (NHGRI)


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