Entrevista: Simpósio de Medicina Regenerativa

Entrevista: Simpósio de Medicina Regenerativa

Nós entrevistamos a palestrante do Simpósio de Medicina Regenerativa Dra. Daniela Bueno, que vai falar sobre Terapia Celular para Odontologia durante o evento.

Na semana passada nós falamos sobre o Simpósio de Medicina Regenerativa, que acontece no dia 14 de março na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Essa semana nós trazemos mais uma entrevista para vocês: dessa vez, conversamos com a Dra. Daniela Bueno, que vai dar uma palestra sobre Terapia Celular para Odontologia durante o evento.

Ela é cirurgiã dentista, mestre em Patologia Bucal, doutora em Genética Humana, pesquisadora e membro do corpo clínico do Hospital Sírio Libanês e do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus e responsável técnica pelo Centro de Processamento Celular do Hospital Sírio Libanês Junto à ANVISA.

A Dra. Daniela realiza há anos pesquisa de grande destaque usando células-tronco para reconstrução óssea em pacientes com fissura lábio-palatina e você pode conhecer um pouco mais o trabalho dela nessas matérias do Jornal Nacional, Jornal da Band e Programa Bem Estar.

TSCT: O que podemos esperar da sua palestra no Simpósio de Medicina Regenerativa?
Dra. Daniela Bueno: Minha palestra será focada no uso de células-tronco mesenquimais obtidas a partir de células-tronco da polpa dos dentes decíduos (dentes de leite). A platéia terá acesso a informações sobre estado atual da arte em bioengenharia de tecidos utilizando as células-tronco obtidas dos dentes decíduos para bioengenharia de tecidos (especialmente osso e cartilagem), eles entenderão desde a bancada do laboratório passando por experimentos em modelos animais, até chegar nos clinical trials (estudos clínicos em humanos) como estas células dos dentes decíduos podem ser utilizadas em medicina regenerativa e bioengenharia de tecidos.

TSCT: Que avanços técnicos recentes mais impactaram as possibilidades de terapias celulares na Odontologia?
Dra. Daniela Bueno: A descoberta e descrição de várias fontes de células-tronco mesenquimais a partir dos tecidos bucais, a utilização de células de pluripotência induzida (iPSC), a possibilidade de regenerar o tecido ósseo que suporta os dentes (osso alveolar) a partir das células tronco mesenquimais obtidas dos tecidos bucais.

TSCT: Quais os principais desafios para que terapias celulares em estudo atualmente sejam incorporadas à prática odontológica?
Dra. Daniela Bueno: Realização das técnicas descritas na literatura por diferentes grupos para que haja validação das técnicas e vencer as barreiras de legislação cumprindo todas as regras durante o desenvolvimento das pesquisas para que as novas terapias possam ser registradas na ANVISA e desta forma possam ser incorporadas como novos tratamentos no sistema de saúde.

TSCT: Quais os principais exemplos de tratamentos odontológicos que têm o potencial de ser realizados de maneira mais satisfatória com o uso de terapias celulares?Dra. Daniela Bueno: Formação de tecido ósseo para suportar implantes dentários e utilização para realização de cirurgias onde a formação de osso seja necessária (por exemplo pacientes portadores de malformações craniofaciais, fraturas faciais etc), também poderão ser utilizadas na reabilitação do ligamento periodontal, em tratamentos endodônticos e até mesmo para formação de dentes completos no futuro.

TSCT: Como as suas pesquisas estão sendo traduzidas em terapias / tratamentos para pacientes?
Dra. Daniela Bueno: Eu realizo uma pesquisa utilizando células tronco de polpa de dentes decíduos para regenerar tecido ósseo alveolar de portadores de fissuras lábio palatinas desde de 2003. Então em 2013 em um projeto do Ministério da Saúde (projeto de bioengenharia tecidual do hospital Sírio Libanês, PROADI_SUS) iniciamos o primeiro estudo clínico do mundo utilizando as células tronco obtidas da polpa do dente decíduo de pacientes portadores de fissuras lábio palatinas para reconstrução do osso alveolar destes pacientes, eliminando a dor e morbidade da região doadora do osso (crista ilíaca) para estes pacientes e reduzindo tempo de internação e custos para o sistema único de saúde. Este estudo está registrado no clinicaltrials.gov. Atualmente vamos iniciar um projeto multicêntrico em 8 hospitais de diferentes regiões do país para validar esta técnica de bioengenharia de tecidos.


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