Envelhecimento celular pode ser revertido em células-tronco pluripotentes induzidas

Envelhecimento celular pode ser revertido em células-tronco pluripotentes induzidas

O envelhecimento é um processo natural pelo qual todos passamos – mas, pelo menos para as suas células, pode ser possível rejuvenescer – bastando, para isso, reprogramá-las para o estado de células-tronco pluripotentes.

Nossas células envelhecem com o passar do tempo – por isso nós, também, envelhecemos. Os sinais de envelhecimento em nível celular acompanham os nossos: enquanto nossa pele ganha rugas, os telômeros (estruturas protetoras nas extremidades de cada cromossomo) das nossas células ficam mais curtos; enquanto nossos cabelos ficam mais brancos ou escassos, nossas células perdem sua capacidade de se dividir. Mas os processos pelos quais as nossas células – e nós – envelhecemos são complexos e ainda pouco compreendidos.

Dessa forma, após a descoberta, em 2007, de que é possível reprogramar células adultas para um estágio parecido com o de células-tronco embrionárias (as famosas células-tronco pluripotentes induzidas ou iPSCs), uma questão começou a ganhar relevância: a idade da pessoa que tem suas células reprogramadas impacta o sucesso das aplicações terapêuticas em estudo?

Um efeito da idade avançada nós já conhecemos: a eficiência do processo de reprogramação é menor quando são usadas células de pessoas mais velhas. Apesar disso, células de idosos – e até de centenários – foram reprogramadas com sucesso algumas vezes, indicando que a idade não é uma barreira intransponível para essa tecnologia.

Mas não é só isso: depois que as células são reprogramadas, alguns sinais de envelhecimento celular são revertidos. Os telômeros, por exemplo, aumentam de tamanho – e, quando as iPSCs são diferenciadas em células especializadas, o tamanho deles continua maior do que nas células originais. As mudanças epigenéticas no DNA também parecem ser revertidas quanto mais as iPSCs são cultivadas, pois as células com menos alterações levam vantagem na cultura. E elas podem ser multiplicadas muitas vezes em laboratório sem perder a capacidade de se dividir.

Outras características relacionadas ao envelhecimento celular têm resultados menos conclusivos. As mitocôndrias, por um lado, tornam-se mais imaturas após a reprogramação e têm uma morfologia parecida com as das células embrionárias, mas o DNA mitocondrial de pessoas mais velhas parece ter mais mutações. Mutações indesejadas podem ser um problema, também, no caso do DNA que fica no núcleo das células – embora essa questão talvez possa ser resolvida cultivando as células por várias gerações, porque as iPSCs sem essas mutações parecem se sair melhor no crescimento e tenderiam a predominar na população celular.

Alguns resultados indicam que a idade não tem um impacto negativo sobre a função das células derivadas das iPSCs. No entanto, poucos estudos foram realizados, e com um número pequeno de linhagens celulares – são necessários mais estudos, sistemáticos, avaliando o efeito da idade sobre os sinais de envelhecimento celular das células reprogramadas e, também, sobre a função das células diferenciadas a partir dessas iPSCs. Possibilidades interessantes incluem estudar células da mesma pessoa em momentos diferentes, e células de outros tecidos que não a pele (mais frequentemente utilizada, mas muito exposta a influências mutagênicas).

Referência:

Strässler ET et al. Age is Relative – Impact of Donor Age on Induced Pluripotent Stem Cell-Derived Cell Functionality. Frontiers in Cardiovascular Medicine. 2018.


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