Espermatozoides férteis são gerados utilizando células-tronco

Espermatozoides férteis são gerados utilizando células-tronco

Em teoria, técnica desenvolvida com células-tronco poderia ser utilizada no tratamento de um tipo de infertilidade masculina.

Na semana passada nós falamos sobre uma nova metodologia utilizando células-tronco pluripotentes induzidas que pode ajudar a entender e a tratar problemas de infertilidade associados ao início da gestação. Hoje nós vamos falar sobre mais um avanço no estudo da infertilidade utilizando esse tipo de célula, relacionado a uma alteração que afeta 0,1% da população humana: o excesso de cromossomos sexuais.

Normalmente, os indivíduos têm dois cromossomos sexuais em cada célula: XX no caso do gênero feminino e XY no caso do gênero masculino. No entanto, em alguns casos, pode haver três desses cromossomos nas células, o que pode acarretar problemas de fertilidade. Indivíduos do gênero masculino com os cromossomos XXY e XYY podem ser inférteis devido à dificuldade de produzir espermatozoides funcionais. Foi esse tipo de condição que cientistas do Instituto Francis Crick, em Londres, em colaboração com colegas japoneses da Universidade de Kyoto, estudaram em trabalho recente publicado na revista Science.

Em um primeiro momento, os pesquisadores pegaram células da orelha de ratos com um cromossomo sexual extra e transformaram em células-tronco pluripotentes induzidas. Durante esse processo de transformação, alguns dos cromossomos sexuais extras foram perdidos. Eles, então, pegaram as células-tronco que não tinham cromossomos sexuais extras e induziram essas células a se transformar em espermatozoides imaturos.

Esses espermatozoides foram injetados nos testículos de ratos para amadurecer e se tornaram espermatozoides funcionais, que foram utilizados para fertilizar óvulos e produziram uma prole saudável e fértil.

O grupo fez, ainda, experimentos para verificar se essa perda de um cromossomo extra durante a reprogramação da célula para se tornar célula-tronco acontece também com células humanas. Para isso, eles utilizaram células de indivíduos com a síndrome de Klinefelter, que possuem os cromossomos XXY. Os resultados foram animadores: foi possível produzir células-tronco que não tinham o cromossomo sexual extra. Essas células poderiam, em teoria, ser utilizadas para produzir espermatozoides, como foi feito com os ratos.

Existe, porém, um obstáculo para que essa abordagem se torne possível no tratamento da infertilidade: no experimento feito com ratos, uma certa proporção dos animais que receberam a injeção de espermatozoides imaturos desenvolveu tumores. Assim, para que a mesma metodologia possa ser aplicada em humanos, é preciso realizar mais pesquisas para diminuir o risco de formação de tumores ou descobrir maneiras de produzir espermatozoides maduros in vitro, sem a necessidade de injetar células imaturas nos testículos.

Esse estudo ilustra bem como estão sendo feitos avanços importantes na pesquisa com células-tronco e, ao mesmo tempo, como é importante que sejam feitos estudos sérios antes da aplicação de células-tronco em tratamentos em seres humanos, para uma avaliação da eficácia e dos riscos associados. Nós já falamos aqui sobre os riscos de tratamentos não aprovados utilizando células-tronco e sobre como identificar tratamentos sérios e confiáveis.

Referência:

Hirota T, Ohta H, Powell BE, Mahadevaiah SK, Ojarikre OA. Fertile offspring from sterile sex chromosome trisomic mice. Science. 2017.


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