Cientistas reportam os resultados do primeiro estudo clínico com células-tronco pluripotentes induzidas

Cientistas reportam os resultados do primeiro estudo clínico com células-tronco pluripotentes induzidas

Células-tronco pluripotentes induzidas foram usadas para tratar degeneração macular, um problema oftalmológico que leva à cegueira

Em 2007, um grupo de pesquisadores japoneses descobriu uma metodologia que permite transformar células da pele em células-tronco pluripotentes, ou seja, células que tem as mesmas características de uma célula-tronco embrionária. Isso abriu inúmeras perspectivas na ciência, sendo a principal delas, a possibilidade de gerar qualquer tipo célula do corpo e assim tratar as mais diversas doenças.

Marcando os dez anos dessa descoberta, os resultados do primeiro estudo clínico com as chamadas células-tronco pluripotentes induzidas foram publicados em Março na revista New England Journal of Medicine. Neste estudo, pesquisadores do Instituto Riken, no Japão, avaliaram a segurança e eficácia do uso das células-tronco pluripotentes induzidas para tratar pacientes com degeneração macular.

A mácula é uma pequena área da retina que é responsável pela visão de detalhes. Em geral, a doença é decorrente do próprio processo de envelhecimento, em razão da deterioração progressiva das células dessa região, mas outros fatores de risco também estão associados, como tabagismo, obesidade e histórico familiar. O paciente com degeneração macular vai progressivamente perdendo a visão central, notando primeiro um embaçamento da visão até posteriormente adquirir pontos cegos no centro do campo visual. Esta doença é a quarta causa mais frequente de cegueira e afeta uma parcela significativa de indivíduos idosos (estima-se que 12% das pessoas com mais de 80 anos são afetadas pela doença).

Neste estudo, as células-tronco pluripotentes induzidas foram geradas a partir de células da pele do próprio paciente e depois diferenciadas para células especializadas da retina. Os pesquisadores então removeram o tecido comprometido no paciente e o substituíram por uma membrana coberta com estas células produzidas em laboratório. O paciente foi seguido durante um ano pela equipe e, neste período, nenhum efeito adverso foi observado, atestando a segurança do método.

Apesar de não ter havido melhora da acuidade visual, também não houve piora, o que pode significar que as células transplantadas pelo menos evitaram a progressão da doença. No entanto, como o estudo foi realizado com apenas um paciente, ainda não é possível se afirmar isto categoricamente. Ainda assim, o estudo representa, sem dúvida, um grande passo para a ciência e esperança para milhões de pacientes que sofrem de degeneração macular.

Na mesma edição da revista, no entanto, um outro estudo utilizando células-tronco derivadas de gordura mostrou resultados frustrantes: três pacientes com degeneração macular tratados com estas células perderam completamente a visão. Porém os dois estudos têm diferenças marcantes: os pesquisadores japoneses foram extremamente rigorosos ao avaliar as células utilizadas para o transplante, estavam baseados em evidências de estudos animais e, principalmente, tinham aprovação de órgãos regulatórios de pesquisa.

Os estudos utilizando as células-tronco de gordura não estavam baseados em resultados prévios de estudos em animais e foram conduzidos sem aprovação do FDA, o órgão americano que regula este tipo de intervenção. Apenas para dar um exemplo da irresponsabilidade dos “pesquisadores” neste caso, as células foram injetadas nos dois olhos dos pacientes que fizeram parte do estudo, o que jamais teria sido aprovado por um órgão regulatório, uma vez que os riscos do tratamento não eram conhecidos.

Este caso ilustra bem a importância da avaliação e aprovação prévia de estudos clínicos por órgãos competentes e como tratamentos com células-tronco que têm sido oferecidos por diversas clínicas, os quais não tem comprovação científica, podem ser extremamente perigosos.

Referências:

Autologous Induced Stem-Cell-Derived Retinal Cells for Macular Degeneration.
Mandai M, Watanabe A, Kurimoto Y, Hirami Y, Morinaga C, Daimon T, Fujihara M, Akimaru H, Sakai N, Shibata Y, Terada M, Nomiya Y, Tanishima S, Nakamura M, Kamao H, Sugita S, Onishi A, Ito T, Fujita K, Kawamata S, Go MJ, Shinohara C, Hata KI, Sawada M, Yamamoto M, Ohta S, Ohara Y, Yoshida K, Kuwahara J, Kitano Y, Amano N, Umekage M, Kitaoka F, Tanaka A, Okada C, Takasu N, Ogawa S, Yamanaka S, Takahashi M. N Engl J Med. 2017 Mar 16;376 (11):1038-1046.

http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1608368?query=featured_home&


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