A descoberta pode ter profundos impactos para o delineamento de estratégias terapêuticas com células-tronco mesenquimais
Quando se pensa no uso terapêutico de células-tronco para uma determinada doença, uma das questões que se levanta é qual o melhor método para se introduzir as células no organismo: se no local que se deseja tratar, ou sistemicamente, ou seja, via circulação sanguínea, visando que as células atinjam o órgão a ser tratado. Embora muitos estudos já tenham demonstrado que células-tronco injetadas sistemicamente migram para o órgão disfuncional (provavelmente porque exista naquele órgão a liberação de moléculas que sinalizam que algo está errado naquele local), um fator que ainda não havia sido investigado é se a idade do indivíduo pode influenciar na correta migração das células.
Para responder esta questão, pesquisadores da Universidade de Leipzig, na Alemanha, injetaram em camundongos fêmeas jovens e velhas células-tronco de machos, pois assim poderiam identificar a presença dessas células nos diferentes órgãos das fêmeas tratadas através da presença do cromossomo Y*. Eles usaram tanto células-tronco de animais jovens quanto de animais idosos. Após alguns dias da injeção sistêmica das células-tronco mesenquimais, os animais tratados foram sacrificados e então investigou-se para onde as células haviam migrado.
Os pesquisadores observaram que as células-tronco de machos jovens, quando injetadas em fêmeas jovens, migram para um grande número de órgãos, como linfonodos, rins, medula óssea, coração, baço, fígado, pulmão e córtex cerebral. Já quando injetadas em fêmeas idosas, as células foram encontradas apenas no córtex cerebral. Por sua vez, as células-tronco de animais idosos quando injetadas em fêmeas tanto jovens quanto idosas, foram encontradas apenas no sangue e no baço desses animais.
Além disso, os cientistas investigaram para onde células-tronco jovens migram se injetadas em camundongos modelo para doença de Alzheimer. Neste caso, eles observaram que as células migram maciçamente para o cérebro e mostram uma distribuição mais ampla do que aquela encontrada em animais saudáveis jovens ou idosos: além do córtex cerebral, as células também se difundiram pelo hipocampo, tronco encefálico, cerebelo e bulbo olfatório.
Dessa forma, os pesquisadores demonstraram que células-tronco mesenquimais derivadas de indivíduos idosos não representam uma boa fonte de material para fins terapêuticos, já que não apresentam uma boa capacidade de difusão pelo organismo. Isto também já havia sido evidenciado por outros trabalhos que mostram, por exemplo, que células derivadas de indivíduos mais velhos possuem uma capacidade anti-inflamatória e de cicatrização reduzida.
Mas o resultado mais revelador foi que a idade do indivíduo receptor afeta a capacidade migratória das células-tronco mesenquimais, o que sugere que o uso terapêutico destas células em indivíduos idosos pode ser menos eficiente. Os pesquisadores acreditam que isto pode se dever a fatores regulatórios relacionados ao envelhecimento. Por outro lado, quando injetadas em animais idosos com doença de Alzheimer, as células atingiram o local desejado, ou seja, o cérebro. Assim, é possível que, havendo um órgão com comprometimento mais grave, se consiga induzir de forma mais robusta a migração das células para este alvo, mesmo em um indivíduo idoso. Dessa forma, talvez a contribuição mais importante do trabalho do grupo da Universidade de Leipzig seja que o fator idade deve ser levado em consideração em futuros testes pré-clínicos e clínicos com células-tronco mesenquimais para uma correta avaliação de seu potencial terapêutico.
*O material genético dos organismos está organizado em estruturas chamadas de cromossomos. Além de conjuntos cromossômicos que estão presentes tanto em machos quanto em fêmeas, os mamíferos do sexo feminino têm dois cromossomos “X”, enquanto os machos têm um cromossomo X e um cromossomo Y. Assim, a presença de material do sexo masculino pode ser facilmente identificável em um organismo feminino pela presença de material genético do cromossomo Y.
Referência: Fabian et al., Distribution pattern following systemic mesenchymal stem cell injection depends on the age of the recipient and neuronal health. Stem Cell Research & Therapy (2017) 8:85.