Células-tronco: um panorama dos seus impactos na medicina

Células-tronco: um panorama dos seus impactos na medicina

São diversos os tipos de células-tronco e cada vez mais notícias sobre seus possíveis usos aparecem nos meios de comunicação; por isso, fizemos um panorama explicando as principais aplicações que poderiam impactar a medicina no futuro

Se você precisa refrescar a memória sobre os tipos de células-tronco, nada melhor do que dar uma passada aqui antes de começar a leitura. Lá, você encontra um resumo sobre células-tronco embrionárias, adultas e artificiais, e introduzimos algumas das principais maneiras pelas quais elas poderiam afetar a medicina: terapia celular, pesquisa e farmacologia.

Transplante de células-tronco: células próprias ou de doador

A maior parte dos estudos registrados tratam de intervenções em que células-tronco são administradas no organismo por diferentes vias (corrente sanguínea, vias aéreas ou diretamente no local da lesão) e, então, espera-se que elas promovam a regeneração tecidual. Não se sabe exatamente como esses efeitos podem ser obtidos, pois as células-tronco podem tanto se diferenciar em células especializadas como liberar substâncias que estimulam a reparação. No caso das células-tronco mesenquimais, por exemplo, imagina-se que a maior parte do efeito terapêutico deva-se à liberação desse tipo de substância.

Para a realização dos transplantes de células-tronco, existem duas possibilidades de origem dessas células: elas podem ser do próprio paciente (uso autólogo) ou podem ser de um doador (uso alogênico). Em alguns casos, o uso autólogo pode ser mais recomendado por não haver risco de rejeição; em outros, o uso alogênico pode ser mais recomendado por evitar defeitos genéticos do paciente relacionados à doença. Em algumas condições, estuda-se o transplante das células-tronco não diferenciadas; em outras, estuda-se diferenciar as células-tronco em células especializadas ou até mesmo formar tecidos e órgãos em laboratório para transplante. Principalmente nesses casos, em que as células serão diferenciadas, o uso autólogo parece mais promissor – ou o paciente pode precisar de imunossupressores por toda a vida. Existem, também, soluções engenhosas para aumentar a eficiência dos transplantes de células-tronco e diminuir essa necessidade.

Usando as células-tronco que já estão onde precisam estar

Pode não ser necessário fazer nada disso em outras situações: existe a possibilidade de se ativar populações de células-tronco que estão nos tecidos especializados, a maior parte do tempo de forma dormente, e são responsáveis por manter o bom funcionamento dos órgãos. Nós já falamos aqui sobre estudos para esse tipo de abordagem com células recentemente descobertas no cérebro e nos pulmões. Ativar essas células de maneira controlada pode ser uma estratégia interessante em diversas situações, pois não há risco de rejeição e as células-tronco já estão com “meio caminho andado”: elas já se comprometeram em se diferenciar em um número limitado de tipos celulares ou em um tipo só e estão no ambiente certo para isso (são chamadas células progenitoras ou precursoras, muitas vezes). Os estudos nessa área de aplicação terapêutica, no entanto, ainda são muito preliminares – é necessário compreender melhor os mecanismos de diferenciação celular envolvidos em cada caso.

Os desafios e as possibilidades no uso das células-tronco pluripotentes

O uso de células-tronco pluripotentes, como as células-tronco embrionárias ou as células-tronco pluripotentes induzidas, podem ter um grande impacto na medicina mas ainda há desafios a serem vencidos. No caso das células-tronco embrionárias, há questões éticas que tornam sua aplicação mais distante. Células-tronco pluripotentes induzidas não têm esses problemas éticos, mas ainda tem um problema: quando não diferenciadas, elas têm um risco maior de gerar tumores. Além disso, é necessário que sejam desenvolvidos métodos automatizados para que elas possam ser usadas em grande escala de maneira mais barata, atendendo aos interesses da população. Não é tão difícil imaginar que esses métodos sejam desenvolvidos logo, considerando que hoje já é possível criar mini-órgãos com essas células usando robôs e selecionar populações de células neurais diferenciadas a partir de células-tronco pluripotentes induzidas usando um sistema de 10.000 nano-agulhas.

A maior utilidade das células-tronco pluripotentes induzidas talvez seja, na verdade, o uso na farmacologia, permitindo tanto testar medicamentos em larga escala para certo tipo de doença que tenha causas bem definidas, como permitindo testar medicamentos de forma personalizada no caso de doenças que tenham múltiplas causas e muita variabilidade individual na resposta aos medicamentos. Isso seria muito útil para doenças em que é difícil prever como uma pessoa vai responder aos medicamentos ou que medicamento vai funcionar para ela, que é o caso de doenças psiquiátricas como a depressão.

Referência:
Mummery C et al. STEM CELLS – Scientific Facts and Fiction. 2ndedition. Elsevier Inc. 2014.


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