Odontologia regenerativa: uso de células-tronco para regeneração óssea

Odontologia regenerativa: uso de células-tronco para regeneração óssea

Células-tronco mesenquimais podem mudar a odontologia, permitindo uma regeneração óssea mais eficaz e com menos complicações clínicas, mas mais estudos em seres humanos são necessários.

Defeitos no osso alveolar (que dá sustentação aos dentes) são um problema que a odontologia ainda procura a melhor forma de resolver. Eles podem ser mais extensos, como em casos de fissura labiopalatina (malformação congênita que afeta 1 a cada 650 crianças nascidas vivas), ou mais delimitados, como nos casos da perda óssea que ocorre depois da extração de um dente. É importante tratar e∕ou prevenir esses defeitos ósseos, pois eles podem diminuir a qualidade de vida dos pacientes – casos mais graves de fissura labiopalatina podem estar associados a dificuldades de fala e alimentação, e a perda óssea após a extração dentária pode tornar o uso de implantes menos eficiente e atrapalhar a mastigação.

A melhor opção de tratamento, hoje, é estimular a regeneração óssea a partir do transplante de enxertos de osso do próprio paciente na região acometida, normalmente retirando uma porção de tecido do quadril. Só que esse procedimento pode ter complicações clínicas, como dores e infecções, e pode não ser possível obter uma quantidade suficiente de tecido para tratar o defeito ósseo em casos mais graves.

O desenvolvimento da bioengenharia tecidual com o uso de células-tronco pode mudar essa abordagem terapêutica no futuro, tornando a regeneração óssea mais eficiente e o procedimento, mais simples. Estão em estudo diferentes tipos de arcabouços (estruturas que dão apoio para a multiplicação e diferenciação das células-tronco) e fontes para obtenção de células-tronco mesenquimais e, na maior parte das vezes, os resultados são positivos.

As células-tronco mesenquimais podem ser encontradas, por exemplo, na medula óssea, no tecido adiposo, e na polpa dos dentes permanentes ou de leite. O uso de células-tronco da medula óssea é bastante estudado, mas é necessário realizar um procedimento cirúrgico para obtenção das células. Alguns grupos de pesquisa têm preferido conduzir estudos com células-tronco mesenquimais obtidas da polpa do dente, que podem ser coletadas de maneira menos invasiva. Cientistas da Universidade de Hiroshima compararam, em camundongos, a eficiência da regeneração óssea de células-tronco mesenquimais da medula óssea, da polpa de dentes permanentes, e da polpa de dentes de leite, e concluíram que todas as fontes permitem regeneração equivalente em termos de quantidade de tecido formado e os melhores resultados em termos da composição do tecido foram observados com as células da polpa de dentes de leite – que são, também, as que podem ser obtidas de maneira mais simples.

No entanto, de acordo com uma revisão sistemática da literatura sobre o uso de células-tronco da polpa do dente para regeneração óssea publicada por pesquisadores do Hospital Sírio Libanês, dos 56 trabalhos analisados, somente 4 foram realizados em seres humanos. Além disso, a maior parte dos estudos em modelos animais foram conduzidos em camundongos e ratos, que não são tão parecidos com os seres humanos como porcos e ovelhas (2 e 1 estudos pertinentes encontrados, respectivamente).

Entre os estudos envolvendo seres humanos, destaca-se o realizado na Itália com 7 pacientes que foram acompanhados por três anos. Foram implantados arcabouços de colágeno com células-tronco da polpa do dente no espaço aberto após a extração de dentes molares e, após esse período, foi possível observar a formação de tecido ósseo compacto e vascularizado. Embora o tipo de tecido ósseo formado seja diferente do tipo de tecido ósseo encontrado normalmente nessa região (esponjoso), a aplicação clínica desse método pode ser interessante em diversas situações, pois o osso regenerado é mais resistente.

São necessárias, no entanto, mais pesquisas pré-clínicas com modelos animais mais parecidos com os seres humanos – e pesquisas clínicas com seres humanos – para que os profissionais da odontologia possam disponibilizar aos pacientes essa inovadora opção terapêutica.

Referências:

Leyendecker Junior A. et al. The use of human dental pulp stem cells for in vivo bone tissue engineering: A systematic review. Journal of Tissue Engineering. 2018.

Nakajima K. et al. Comparison of the bone regeneration ability between stem cells from human exfoliated deciduous teeth, human dental pulp stem cells and human bone marrow mesenchymal stem cells. Biochemical and Biophysical Research Communications. 2018.

Giuliani A. et al. Three Years After Transplants in Human Mandibles, Histological and In-Line Holotomography Revealed That Stem Cells Regenerated a Compact Rather Than a Spongy Bone: Biological and Clinical Implications. Stem Cells Translational Medicine. 2013.

ABFLP – Associação Brasileira de Fissuras Lábio Palatinas


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