Tratamentos com células-tronco no  exterior: ensaio clínico ou turismo?

Tratamentos com células-tronco no exterior: ensaio clínico ou turismo?

Atualmente, existem poucos tratamentos com células-tronco aprovados, mas muitas terapias experimentais – e nem todas são confiáveis.

Muitos tratamentos com células-tronco são conduzidos por instituições de pesquisa renomadas, obedecem às mais rigorosas normas éticas e ajudam a avançar nosso conhecimento em biologia e medicina. Outros tratamentos com células-tronco, infelizmente, não fazem nada disso. Ainda assim, isso não os impede de usar o termo “ensaio clínico” (ou clinical trial), para conferir um viés (infundado) de credibilidade. É imprescindível manter seu médico e demais profissionais que cuidam da sua saúde informados de qualquer decisão a respeito de terapias experimentais. Para ajudar os pacientes a navegar pelo grande número de tratamentos experimentais com células-tronco oferecidos atualmente, principalmente no exterior, listamos abaixo características que indicam que um ensaio clínico é confiável – e a principal indicação de que ele não é.

1. O paciente é claramente informado dos riscos e benefícios.​

No Brasil (e em muitos outros países) um tratamento experimental só pode ser administrado após o paciente assinar um termo de consentimento informado, confirmando que entendeu e está ciente de todos os riscos a que estará sujeito. O principal sinal de que uma instituição oferece falsas – e perigosas – promessas (o famoso “turismo de células-tronco”) é a atitude de não divulgar claramente os riscos associados a um tratamento experimental. Não existe tratamento sem risco. Desconfie imediatamente de clínicas e profissionais que sugerem o contrário. O fato das células serem do próprio paciente não as torna automaticamente seguras: afinal, câncer é uma doença (ou conjunto de doenças) causada pelas nossas próprias células, e todos sabemos a gravidade dessa doença.

2. O ensaio clínico é registrado​.

Consulte plataformas online públicas como os sites www.ensaiosclinicos.gov.br/ e www.clinicaltrials.gov para verificar se os tratamentos com células-tronco disponibilizados pela clínica em questão foram registrados lá . Estar registrado em uma dessas plataformas não prova que um ensaio clínico é sério, mas a falta de registro levanta suspeitas, já que no Brasil (e em outros países), o registro é obrigatório.

3. O ensaio clínico foi aprovado por um comitê de ética ou equivalente​.

Estudos envolvendo seres humanos devem ser aprovados por um comitê de ética independente. No Brasil, cada instituição pode ter um ou mais comitês de ética internos, cujos dados são centralizados na Plataforma Brasil. Um comitê de ética é um órgão multidisciplinar e independente, que avalia se o estudo será conduzido de forma ética e protege a integridade e dignidade dos participantes.

4. A equipe envolvida é qualificada​.

Informe-se sobre a formação e qualificação dos envolvidos no ensaio clínico, e se existem denúncias contra os responsáveis nos órgãos de classe (ou mesmo criminais).

5. O paciente será acompanhado durante e após o tratamento​.

Frequentemente, ensaios clínicos não apenas oferecem o tratamento gratuitamente, como também garantem acompanhamento médico após a conclusão do estudo.

6. Existe embasamento científico para o tratamento​.

Os tratamentos com células-tronco sendo testados devem ser compatíveis com as doenças sendo tratadas. Ensaios clínicos com células-tronco para diabetes tipo I, por exemplo, incluem células-tronco precursoras do pâncreas, pois é a perda de função desse órgão que causa a doença. Já ensaios clínicos para doença de Alzheimer envolvem células precursoras neuronais, pois é a degeneração cerebral que causa os sintomas de Alzheimer. Baseado no nosso conhecimento atual, não faria sentido regenerar o cérebro do paciente para recuperar a produção de insulina, nem regenerar seu pâncreas para tratar perda de memória. Da mesma forma, é muito pouco provável que um único tratamento com células-tronco seja benéfico para muitas doenças diferentes. É importante questionar qual a origem das células-tronco sendo utilizadas e de que maneira elas irão tratar os sintomas ou causas da doença.

Fontes:

International Society for Stem Cell Research. Nine Things To Know About Stem Cell Treatments.

NIH Clinical Research Trials and You.

Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (ReBEC)


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