A esclerose múltipla (EM) é uma doença imuno-mediada cuja causa ainda é desconhecida. Ela afeta a mielina, a camada lipídica que protege os neurônios, e acaba levando à degeneração dos próprios neurônios. A doença ainda não tem cura, mas a combinação de terapias com células-tronco e esclerose múltipla tem despertado otimismo em pacientes e médicos.
Células-tronco e esclerose múltipla: em que ponto estamos?
Ainda não existem tratamentos com células-tronco aprovados para o tratamento de esclerose múltipla (EM). Não se sabe se células-tronco poderão um dia curar a EM (afinal, não se sabe ainda o que causa o transtorno), mas elas têm o potencial de retardar, parar ou mesmo reverter o progresso da doença. Terapias experimentais com células-tronco têm conquistado manchetes no mundo todo, devido aos resultados preliminares bastante positivos. Um número relativamente grande de estudos já foi realizado, o que estabeleceu a segurança da terapia celular na EM. Atualmente está em andamento um ensaio clínico de fase 3, o estágio mais avançado do uso experimental de uma terapia (isto é, antes da aprovação e comercialização). Na fase 3, um grupo maior de pacientes é recrutado a fim de se testar se o tratamento, além de seguro, realmente funciona.
Como as células-tronco podem ajudar?
Células-tronco e esclerose múltipla: pesquisa
Ainda não se sabe exatamente o que causa a EM. Ela envolve o mau funcionamento do sistema imune, mas ainda não se sabe se isso inclui a presença de autoanticorpos (como ocorre nas doenças autoimunes) ou de algum outro mecanismo ainda desconhecido. O uso de células-tronco neurais ou de células-tronco pluripotentes induzidas (iPS) pode permitir que cientistas recriem a gênese da doença em laboratório, e assim possam investigar as causas da EM. O estudo dessas células-tronco também está permitindo aos cientistas investigar como a mielina é produzida e de que modo o organismo age para reparar lesões na mielina.
Células-tronco e esclerose múltipla: tratamento
- Prevenção de lesões. Uma das aplicações sendo testadas é o uso de células-tronco como moduladoras do sistema imune dos pacientes. Embora não se saiba exatamente o que origina a EM, é sabido que envolve as células imunes do paciente equivocadamente atacando seus próprios neurônios. Células-tronco têm sido usadas para substituir ou “treinar” esse sistema imune que não está funcionando. Uma abordagem é a injeção de células-tronco hematopoiéticas (as células precursoras do sistema imune) em pacientes cujo sistema imune foi suprimido com quimioterapia. Dessa maneira, o sistema imune do paciente é “reiniciado” com as células injetadas – e espera-se que esse novo conjunto de células não continue o ataque à mielina. Embora pareça trazer resultados positivos para alguns indivíduos, ela leva à morte 1-2% dos pacientes tratados, e portanto só deve ser considerada nos casos que não responderam a nenhum outro tratamento. Outra possibilidade é usar células-tronco mesenquimais, que possuem notória capacidade imunomodulatória, como agentes capazes de diminuir a atividade do sistema imune do paciente contra si próprio.
- Reparo de lesões. Nosso cérebro já vem de fábrica com um sistema de reparo: as células-tronco neurais. Quando a mielina é danificada, essas células atuam para regenerá-la. No entanto, em pacientes com EM, o reparo não é suficiente para compensar os danos, e as lesões acumulam, levando à sintomatologia típica da doença. Estudando a biologia das células-tronco neurais, cientistas esperam ser capazes de descobrir como estimular as células-tronco naturalmente presentes no sistema nervoso a funcionarem mais e melhor. Se isso não for possível, células-tronco de doadores saudáveis podem um dia vir a ser injetadas nos pacientes para intensificar o seu processo de reparo.
Saiba mais sobre a esclerose múltipla:
O que é esclerose múltipla?
A esclerose múltipla é caracterizada pela degeneração da mielina dos neurônios e, eventualmente, dos próprios neurônios.
A bainha de mielina é importante para garantir que a condução de impulsos elétricos pelos neurônios aconteça de forma rápida e precisa. Sem ela, a transmissão de informações pelo sistema nervoso fica tão lenta que a comunicação entre diferentes partes do corpo fica comprometida. Os sintomas dependem de quais neurônios são afetados, e por isso variam grandemente: podem incluir alterações visuais, sensoriais e de movimento, além de déficits cognitivos. Tipicamente, esse período sintomático (recaída) é sucedido pela melhora espontânea dos sintomas (remitência) conforme o organismo repara a mielina danificada. No entanto, com o tempo, as lesões acumulam além da capacidade de reparo do organismo e levam à degeneração dos próprios neurônios, causando piora progressiva da capacidade sensorial, motora e cognitiva.
Quais as causas da esclerose múltipla?
Não se sabe ao certo. A esclerose múltipla certamente tem um componente genético, mas este não parece ser determinante. Estudos com gêmeos idênticos mostram que, se um deles desenvolve EM, a probabilidade do segundo também apresentar a doença é em torno de 25%. A doença é mais frequente em mulheres, em pessoas de pele clara e em países distantes do equador. Por todas essas razões, acredita-se que fatores hormonais e ambientais estejam associados ao surgimento da doença. A doença é 500 vezes mais frequente no norte da Europa do que na África, e 20 vezes mais frequente no sudeste do que no nordeste brasileiro; por isso, especula-se que exposição ao sol na infância possa ajudar a prevenir a doença, possivelmente através da síntese de vitamina D, um agente imunomodulador. No entanto, não existe evidência de que suplementação com vitamina D previna a doença. Agentes infecciosos também aparentam ser capazes de desencadear EM em indivíduos suscetíveis, principalmente Infecção pelo vírus Epstein-Barr. No entanto, ainda não existem evidências conclusivas que estas infecções de fato causem EM. Outro fator de risco importante é o fumo: pessoas que fumam são mais propensas a desenvolver EM, e a apresentar episódios mais graves e mais frequentes. Felizmente, parar de fumar diminui a velocidade de progressão da doença.
Quais tratamentos estão disponíveis?
Infelizmente, ainda não existe cura para a esclerose múltipla, mas existem cada vez mais medicações, mais eficazes, para tratar a doença. Nenhuma medicação disponível consegue reverter as lesões neuronais existentes, mas elas previnem ou diminuem a ocorrência de novas lesões. O uso de interferon-beta, anticorpos monoclonais e certas medicações orais (como o fingolimode) desacelera a evolução da doença, e sintomas específicos podem ser tratados com medicação adequada.
Fontes:
- Associação Brasileira de Esclerose Múltipla
- National Multiple Sclerosis Society
- Esclerosemultipla.com.br. Quem está mais susceptível para desenvolver esclerose múltipla?
- A closer look at stem cells: multiple sclerosis.
- EuroStemCells. Multiple sclerosis: how could stem cells help?
- Estudos de fase 3 cadastrados no site clinicaltrials.gov