Moléculas presentes nas microvesículas derivadas de células-tronco atenuam a resposta imunológica responsável por estas doenças autoimunes
Cientistas da Universidade do Texas e do Hospital Universitário Nacional de Seoul demonstraram que vesículas derivadas de células-tronco mesenquimais podem ter efeitos imunomodulatórios tão bons quanto aos das próprias células e, assim, contribuir para o tratamento de duas doenças autoimunes: o diabetes tipo 1 e a uveíte.
O diabetes tipo 1 decorre da destruição das células produtoras de insulina no pâncreas pelo sistema imune do próprio indivíduo. A consequência disso é que o organismo passa a produzir pouca insulina, o hormônio que faz com que o açúcar, nosso combustível, entre nas células, e assim ele permanece na circulação, causando a chamada hiperglicemia.
Já a uveíte é uma inflamação que ocorre no chamado trato uveal que é o conjunto de três estruturas do olho: a íris, o corpo ciliar e a coroide (uma estrutura composta por vasos sanguíneos). Esta inflamação pode ocorrer por traumas, agentes infecciosos ou tumores, mas pode ser decorrente de um processo autoimune também. A uveíte, se não tratada, pode levar a perda de acuidade visual e até cegueira, devido às consequências que a inflamação crônica causa para os tecidos do trato uveal.
Devido às ações imunomodulatórias das células-tronco mesenquimais, estas células são vistas como potenciais ferramentas para o tratamento de doenças autoimunes. De fato, o mesmo grupo que testou as vesículas no presente trabalho, já havia testado a eficácia das células-tronco para tratar diabetes tipo 1 e uveíte com resultados positivos.
Agora, os pesquisadores demonstraram que apenas as vesículas já são suficientes para se obter o mesmo efeito. O grupo utilizou camundongos modelo para diabetes tipo 1 jovens, que ainda não tinham começado a apresentar os sintomas da doença e injetaram nos animais células do sistema imune de animais mais velhos que já estavam com a doença. O objetivo foi disparar o início do processo autoimune num momento específico. No mesmo dia e também no quarto dia após esta indução, injetaram em um grupo de animais as vesículas derivadas das células-tronco mesenquimais, em outro grupo as células em si, e num terceiro grupo apenas uma solução salina como controle do experimento. O resultado foi que nos animais não tratados (que receberam a solução salina), os sintomas do diabetes apareceram por volta do 45o dia: aproximadamente 80% dos animais apresentavam hiperglicemia (índices de glicemia acima de 250mg/dL de sangue), destruição das células produtoras de insulina do pâncreas e a presença de linfócitos T no órgão (um indicativo do ataque do sistema imune). Já nos animais tratados com células-tronco ou com as vesículas, pouquíssimos animais apresentavam estes sintomas mesmo depois de 60 dias após a indução da doença.
Resultados semelhantes foram vistos em animais modelo para uveíte: 21 dias após a indução do processo inflamatório e concomitante tratamento com células-tronco ou vesículas, os animais não apresentavam sinais de inflamação ocular, infiltração de células inflamatórias no olho ou alterações na camada de células da retina, enquanto os animais não tratados apresentavam todos estes sinais clínicos. O uso das vesículas derivadas de células-tronco mesenquimais pode ser mais interessante que o uso das células em si uma vez que não há os possíveis riscos de indução de tumor ou de reações rejeição (no caso de transplantes alogênicos, ou seja, com células que não são do próprio indivíduo). Por outro lado, há que se considerar que, ao contrário de células, as vesículas não se auto-proliferam e, portanto, novas doses de vesículas precisariam ser injetadas a intervalos regulares para que se pudesse manter seus efeitos no organismo. Estas questões ainda precisam ser investigadas, mas o trabalho demonstra o potencial das vesículas como alternativa a células-tronco diretamente para tratamentos de dia.
Referência:
Shigemoto-Kuroda T et al., MSC-derived Extracellular Vesicles Attenuate Immune Responses in Two
Autoimmune Murine Models: Type 1 Diabetes and Uveoretinitis. Stem Cell Reports. 2017 May
9;8(5):1214-1225. doi: 10.1016/j.stemcr.2017.04.008.
http://www.cell.com/stem-cell-reports/fulltext/S2213-6711(17)30162-5?_returnURL=http%3A%2F%2Fli
nkinghub.elsevier.com%2Fretrieve%2Fpii%2FS2213671117301625%3Fshowall%3Dtrue