Células-tronco pluripotentes induzidas são utilizadas no estudo de transtornos psiquiátricos

Células-tronco pluripotentes induzidas são utilizadas no estudo de transtornos psiquiátricos

O uso dessas células-tronco no estudo de transtornos psiquiátricos pode levar ao desenvolvimento de tratamentos para depressão, ansiedade, transtorno bipolar e esquizofrenia

Transtornos psiquiátricos são responsáveis por 7,1% dos prejuízos atribuídos a doenças no mundo, e esse número tem crescido nos últimos anos – entre 1990 e 2010 a prevalência desses transtornos teve um aumento de cerca de 22%. Estima-se que o impacto econômico das doenças mentais seja equivalente ao custo com o tratamento para o câncer. Embora o conhecimento em neuropsiquiatria tenha avançado bastante, ainda há muitas limitações devido à dificuldade de estudar diretamente as células e os circuitos neurais envolvidos.

Nesse contexto, a tecnologia de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs, na sigla em inglês) oferece novas possibilidades para solucionar esse problema. Essa tecnologia permite reprogramar células somáticas adultas em células que possuem propriedades de células-tronco embrionárias, como a capacidade de se diferenciar, em condições adequadas, nos tipos celulares que dão origem a quase todos os tecidos humanos. Com essas células-tronco, é possível obter células para modelar o fenótipo molecular e fisiológico de doenças in vitro, testar os efeitos de medicamentos novos e existentes e estudar mecanismos de diferentes doenças.

O progresso nessa área está acontecendo muito rápido. Há apenas dez anos, em 2007, iPSCs humanas foram geradas pela primeira vez a partir de fibroblastos e, hoje, diferentes grupos de pesquisa já conseguiram utilizar essas células-tronco para gerar populações celulares específicas, como neurônios gabaérgicos, serotoninérgicos e dopaminérgicos, com implicações para o estudo dos transtornos psiquiátricos mais prevalentes na população: depressão, ansiedade, transtorno bipolar e esquizofrenia.

No caso da depressão, por exemplo, após a geração de neurônios serotoninérgicos a partir de células-tronco pluripotentes induzidas, foram realizados testes com o medicamento escitalopram, demonstrando a utilidade desses neurônios como ferramentas para a pesquisa de moduladores de serotonina. Neurônios gabaérgicos também são afetados nesse transtorno, com redução no número e tamanho desses neurônios no córtex pré-frontal dorsolateral e do córtex orbito-frontal, e terapias celulares gabaérgicas já foram utilizadas em modelos animais, com resultados positivos.

Já foram gerados em laboratório, também, tipos celulares humanos exibindo o fenótipo observado em transtorno bipolar permitindo, inclusive, o estudo de possíveis mecanismos moleculares responsáveis por diferenças na responsividade ao tratamento com lítio.

Recentemente, foi desenvolvido um sistema totalmente automatizado para reprogramação celular, o que pode permitir a geração de um grande número de iPSCs paciente-específicas para estudo e desenvolvimento de tratamentos. Com populações celulares geradas a partir de iPSCs do próprio paciente, é possível estudar os mecanismos de ação de diferentes medicamentos e, no futuro, a ideia é que se possa pré-selecionar a terapia mais eficaz para cada indivíduo, o que representa um passo importante na aplicação de medicina personalizada ao tratamento de transtornos psiquiátricos.

Fonte:

Soliman MA, Aboharb F, Zeltner N, Studer L. Pluripotent stem cells in neuropsychiatric disorders. Molecular Psychiatry. 2017:

http://www.nature.com/mp/journal/vaop/ncurrent/full/mp201740a.html


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