Aplicação sistêmica de células-tronco mesenquimais de gordura tiveram resultados positivos em felinos, abrindo perspectivas também para o tratamento doenças inflamatórias orais humanas
Um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia, Davis (UCD) utilizou com sucesso células-tronco mesenquimais de gordura para tratar gatos com gengivoestomatite, uma condição que faz parte de um grupo de doenças inflamatórias orais e que atinge 1-12% desses felinos. A gengivoestomatite causa lesões doloridas na mucosa oral e faz com que os animais não se alimentem direito, percam peso, diminuam seu comportamento social, afetando seriamente sua qualidade de vida. As causas dessa doença não são bem esclarecidas ainda, mas acredita-se que se deva a uma resposta inapropriada do sistema imune a microorganismos presentes na cavidade oral ou mesmo a infecções virais. Infelizmente, o tratamento mais eficaz para a gengivoestomatite nos felinos é a remoção total ou parcial dos dentes. No entanto, cerca de 30% dos animais não respondem a este tratamento e precisam continuar a serem tratados com antibióticos, corticoides e remédios para dor.
Uma vez que a doença está ligada a alterações da resposta imunológica, as células-tronco mesenquimais poderiam ter um efeito benéfico para seu tratamento, já que estas células possuem propriedades imunomodulatórias.
De fato, o grupo da UCD já havia testado os efeitos do uso de células-tronco mesenquimais de gordura autólogas (ou seja, do próprio animal a ser tratado) para tratar gatos com gengivoestomatite. O trabalho havia mostrado resultados bastante positivos, com remissão da doença em 5 dos 7 animais tratados. Porém, o uso de células autólogas é dificultado pelo fato de que as células devem ser coletadas do próprio animal, expandidas em laboratório até um número suficiente para o tratamento e passar por diversos testes de controle de qualidade para se garantir que são de fato células-tronco mesenquimais. Além disso, sabe-se que se o animal estiver infectado com um vírus felino em particular, estas células podem não se proliferar de maneira adequada em laboratório. Por isso, o tratamento com células alogênicas (de outro indivíduo) poderia ser uma boa alternativa que economizaria tempo e dinheiro. Neste caso, estoques de células poderiam ser produzidos a partir de alguns animais, o controle de qualidade seria feito apenas nestas poucas linhagens, o que facilitaria todo o procedimento além de possibilitar a disponibilidade imediata de células para o tratamento de um animal.
Assim, neste novo trabalho do grupo, os pesquisadores testaram a segurança e eficácia do uso de células alogênicas para tratar 7 gatos com gengivoestomatite para os quais a remoção dos dentes não havia trazido melhora do quadro clínico. Dos 7 animais tratados, 4 tiveram uma resposta clínica excelente, recuperando-se totalmente ou melhorando significativamente da doença, voltando a se alimentar, ganhando peso e voltando a se sociabilizar. Nenhum efeito adverso foi observado em nenhum dos animais. Por outro lado, a recuperação foi mais lenta comparada aos animais tratados com células autólogas no trabalho anterior.
Modelos felinos e caninos de doenças inflamatórias orais podem ser usados para predizer possíveis resultados de terapias com células-tronco para doenças semelhantes em humanos. A estomatite aftosa recorrente, o líquen plano oral e o pênfigo são exemplos de doenças inflamatórias orais que ocorrem no homem e cujos quadros clínicos também são bastante comprometedores para a qualidade de vida do paciente. Apesar dos resultados promissores, amostras maiores precisam ser testadas para se avaliar a eficácia do tratamento e especialmente para confirmar se a melhor estratégia seria o uso de células autólogas ou alogênicas, dado a resposta mais lenta encontrada no tratamento com estas últimas.
Referência: Arzi et al., Therapeutic Efficacy of Fresh, Allogeneic Mesenchymal Stem Cells for Severe Refractory Feline Chronic Gingivostomatitis. Stem Cells Transl Med. 2017 Jun 15. doi: 10.1002/sctm.17-0035. [Epub ahead of print]
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/sctm.17-0035/full