Células-tronco podem ser usadas para tratar degeneração macular

Células-tronco podem ser usadas para tratar degeneração macular

Estudo publicado na revista Nature Biotechnology relata início de ensaio clínico que utiliza células-tronco embrionárias para tratar a degeneração macular úmida, com bons resultados.

 

Para realizar atividades que exigem a percepção de detalhes visuais – como ler esse texto ou reconhecer um rosto, por exemplo – o bom funcionamento da região central da retina, chamada mácula, é muito importante. Essa região tem uma grande concentração de células do tipo cones o que permite, além da percepção de detalhes, a percepção de cores. Quanto mais afastado do centro da retina, menor a concentração dessas células e mais a visão depende de um outro tipo celular, os bastonetes, que não detectam diferenças entre cores e também não permitem uma percepção tão detalhada da cena. Por isso, os sintomas da degeneração macular estão relacionados à visão central mediada pelos cones, tais como: dificuldades para enxergar e∕ou a presença de uma mancha escura no centro do campo visual, visão embaçada e distorcida e cores embaçadas.

A degeneração macular tem forte relação com a idade, afligindo principalmente pessoas acima de 60 anos, embora possa estar presente em pessoas mais novas também. A chamada degeneração macular úmida ou exsudativa, estudada nesse ensaio clínico, é a forma menos frequente mas também a mais agressiva da doença. Ela é caracterizada por perda rápida da visão (em semanas ou meses) causada pelo crescimento anormal de vasos sanguíneos sob a mácula, com hemorragias e danos às células do epitélio pigmentar da retina. Não há, ao alcance dos pacientes, tratamentos que permitam a recuperação da visão perdida e, com o envelhecimento da população mundial, a prevalência dessa condição tende a aumentar. Nesse contexto, as células-tronco representam uma grande esperança de melhora na qualidade de vida, pois com elas se abre a possibilidade de regeneração do tecido e recuperação da função visual.

Isso foi, de fato, o que aconteceu com os dois primeiros participantes do ensaio clínico descrito no trabalho, que faz parte do Projeto de Londres para Curar a Cegueira e contou com a colaboração de cientistas Universidade da Califórnia – Santa Barbara. Os dois pacientes, uma mulher na faixa dos 60 anos e um homem na faixa dos 80 anos, não eram capazes de ler antes do tratamento, mesmo usando óculos. Depois da operação, eles passaram a ler entre 60 e 80 palavras por minuto com óculos de leitura. No total, a previsão é que 10 pacientes participem do estudo.

Antes de conseguir a aprovação para testar o tratamento em seres humanos, a equipe fez pesquisas cuidadosas em porcos para verificar a segurança e a eficácia de utilizar células-tronco embrionárias nesse tipo de procedimento. Mesmo assim, os dois participantes da pesquisa foram acompanhados por 12 meses antes desse primeiro relato, e todos serão acompanhados por cinco anos para monitoramento de possíveis reações adversas, como a formação de tumores – apesar de essa ocorrência ser considerada pouco provável.

O método aplicado nesse tratamento envolveu uma técnica de engenharia tecidual, com diferenciação das células-tronco embrionárias em células do epitélio pigmentar da retina e associação dessas células a uma membrana sintética, que foi implantada na região danificada em uma cirurgia com duração de uma a duas horas. Os pesquisadores pretendem, também, estudar esse tratamento para casos da forma menos severa da doença, a degeneração macular seca, e desenvolver um produto que esteja disponível para uso da população nos próximos anos.

 

Referências:

Cruz L et al. Phase 1 clinical study of an embryonic stem cell-derived retinal pigment epithelium patch in age-related macular degeneration. Nature Biotechnology. 2018.

The London Project to Cure Blindness


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