Pesquisadores estudam células-tronco do cordão umbilical para tratar fissura lábio-palatina. A vantagem de usar essas células é que elas são extremamente jovens e os procedimentos poderiam ser realizados nos primeiros meses de vida das crianças, mas mais estudos são necessários para verificar se essa abordagem pode ser eficaz.
A busca por melhores opções de tratamento para a fissura lábio-palatina é um esforço multidisciplinar que tem se beneficiado das novas possibilidades da medicina regenerativa, por meio da engenharia tecidual associando biomateriais com o uso de células-tronco mesenquimais. Nos últimos anos, muitos pesquisadores já demonstraram a capacidade de células-tronco da medula óssea, da polpa dos dentes, do sangue do cordão umbilical e do tecido adiposo de dar origem a células formadoras de ossos, cartilagem e gordura.
Nesse contexto, o uso de células-tronco do cordão umbilical para correção da fissura lábio-palatina tem atraído o interesse de pesquisadores e dentistas pela possibilidade de impactar o tratamento dos pacientes nos primeiros meses de vida. O sangue do cordão umbilical possui diversos tipos de células, entre elas células-tronco mesenquimais e, uma vez que é possível identificar malformações congênitas ainda durante a gestação, por meio de exames pré-natais de ultrassonografia, pode ser feito um planejamento adequado para um tratamento precoce. Existem diversos protocolos e técnicas que são empregados nesses casos, e alguns estudos sugerem que o uso de células-tronco nos procedimentos cirúrgicos pode ter um efeito positivo.
Recentemente foi publicado um estudo realizado entre 2007 e 2016 por pesquisadores brasileiros, no periódico The Journal of Craniofacial Surgery. Durante o período de condução do estudo, 18 pacientes passaram pelos mesmos procedimentos cirúrgicos e de reabilitação, e metade deles recebeu também, durante as cirurgias, aplicação das células-tronco coletadas do sangue do cordão umbilical e do sangue da placenta. A comparação estatística entre o grupo que recebeu células-tronco e o grupo controle mostrou diferenças no processo inflamatório, de cicatrização e de fibrose. Embora os autores do estudo tenham declarado não existir conflito de interesses, o procedimento de armazenamento das células para utilização no estudo foi realizado em um banco de armazenamento de células comercial, com protocolo adaptado especificamente para que fosse possível o uso das células pela quantidade de vezes necessária nesse tipo de aplicação terapêutica. Além disso, não houve cegamento na avaliação clínica dos pacientes, de forma que os vieses do pesquisador podem ter interferido nos resultados. Outra limitação desse estudo é que não foi demonstrada regeneração do tecido ósseo promovida pelas células-tronco no procedimento utilizado, nem foram apresentados resultados pré-clínicos suficientes para dar suporte às técnicas utilizadas no estudo.
Pesquisas pré-clínicas nessa área têm procurado estabelecer se essa é uma abordagem que pode ser eficaz para aplicação terapêutica em seres humanos. Este ano, por exemplo, pesquisadores da Universidade de Kyoto publicaram resultados na revista Cytotherapy (publicação organizada pela ISCT – International Society for Cellular Therapy) demonstrando o potencial das células-tronco do cordão umbilical de pacientes com fissura lábio-palatina de originar células de osso e de cartilagem in vitro.
Outros testes têm sido realizados em modelos animais, com uso de técnicas mais avançadas de engenharia tecidual, como a associação das células-tronco mesenquimais do cordão umbilical com biomateriais de nano-microfibra em suínos. Esse procedimento mostrou resultados de regeneração óssea semelhantes aos que são obtidos com os métodos atuais de transplante de enxerto ósseo. Além disso, o uso de células-tronco provenientes de uma região específica do cordão umbilical, chamada geleia de Wharton, também já foi investigada com resultados promissores de regeneração óssea em ratos.
Referências
Mazzetti, MPV et al. Importance of Stem Cell Transplantation in Cleft Lip and Palate Surgical Treatment Protocol. Journal of Craniofacial Surgery. 2018.
ABE, K, Nagamura- Inoue T. Applicable possibility of autologous osteochondral regenerative medicine using umbilical cord-derived mesenchymal stromal cells of cleft palate patient. Cytotherapy. 2019.
Caballero M et al. Tissue Engineering Strategies to Improve Osteogenesis in the Juvenile Swine Alveolar Cleft Model. Tissue Engineering Part C: Methods. 2017.
Caballero M. Juvenile Swine Surgical Alveolar Cleft Model to Test Novel Autologous Stem Cell Therapies. Tissue Engineering Part C: Methods. 2015.
Greives, MR. Abstract 126: Wharton’s Jelly Induces Osteogenesis in an Alveolar Cleft Model. Plastic and Reconstructive Surgery – Global Open. 2017.