A cirurgia de implante de silicone é o método mais utilizado atualmente com objetivo de aumento de volume ou reconstrução mamária, mas esse procedimento não é isento de riscos. Uma alternativa a essa técnica é o enxerto de gordura da própria paciente. Contudo, a gordura enxertada pode apresentar baixas taxas de retenção, sendo reabsorvida, em parte, pelo organismo. Pesquisadores europeus e americanos realizaram um estudo para avaliar se a incorporação de células-tronco derivadas de tecido adiposo ao enxerto pode aumentar sua retenção. Os resultados são bastante promissores
Algumas alterações estéticas nas mamas femininas podem acontecer devido a anomalias congênitas, câncer de mama, envelhecimento ou amamentação. O aumento de volume ou reconstrução mamária são um grande desafio cirúrgico. A cirurgia para aumento de mamas é o tipo de cirurgia plástica mais realizada no mundo e os implantes de silicone têm sido os materiais mais utilizados para esse fim. Entretanto, esse tipo de implante não é isento de riscos e as implicações a longo prazo ainda não são totalmente claras.
Visando proporcionar maior satisfação e segurança para as pacientes, uma abordagem alternativa vem sendo utilizada para correção e aumento de mamas: o enxerto de gordura da própria paciente. A extração de gordura por meio de lipoaspiração é um procedimento que pode ser realizado de forma segura e a transferência dessa gordura lipoaspirada para outras áreas do corpo possibilita desde modificações pequenas de contorno até correções de grande volume. Além disso, a gordura da própria paciente é um material prontamente disponível, biocompatível, versátil e não causa rejeição pelo sistema imune.
Contudo, esse método apresenta uma limitação com relação às taxas de retenção da gordura, pois a quantidade de gordura que permanece no local do transplante (ou seja, não é reabsorvida pelo organismo da paciente) varia de 25% a 80%. Assim, faz-se necessária, em alguns casos, a repetição do procedimento de enxertia. Por esse motivo, abordagens que aumentem a eficiência de retenção do enxerto tornam-se necessárias, especialmente em pacientes que possuem pouco tecido adiposo disponível.
Como visto em textos anteriores do blog (veja aqui e aqui), muitos grupos de pesquisa têm estudado a utilização de células-tronco em procedimentos estéticos. Em maio deste ano, foi publicado um estudo clínico em que foi utilizada uma abordagem muito interessante com objetivo de aumentar a eficiência dos enxertos: foram utilizadas células-tronco derivadas de tecido adiposo (do inglês adipose-derived stem cells ou ADSCs) para enriquecer o enxerto de gordura. O objetivo do estudo foi avaliar se o enxerto de gordura enriquecido com ADSCs fornece melhores resultados do que o enxerto convencional, não enriquecido, configurando-se como uma alternativa mais segura e mais natural do que o implante de silicone.
O estudo foi realizado com um total de 12 participantes, entre 21 e 42 anos, que possuíam seios pequenos e tinham interesse em aumento da mama – 6 receberam o enxerto enriquecido e as outras 6 receberam o não-enriquecido. O volume das mamas foi avaliado antes da cirurgia e 4 meses depois da cirurgia (uma vez que a reabsorção da gordura transplantada cessa depois de aproximadamente 3 meses) por meio de imageamento por ressonância magnética. Também foram tiradas fotos clínicas das pacientes antes da cirurgia, 4 e 18 meses depois da cirurgia. As pacientes que receberam o enxerto enriquecido passaram por uma pequena lipoaspiração, 2 semanas antes do enxerto, para obtenção de 100ml de gordura. As ADSCs foram então isoladas a partir dessa gordura e expandidas em laboratório antes de serem incorporadas ao enxerto de gordura. Esses enxertos enriquecidos possuíam cerca de 20 milhões de ADSCs por mililitro de gordura. As pacientes foram acompanhadas por um período mínimo de 18 meses e receberão avaliações de segurança durante 5 anos.
O volume total médio enxertado, para cada grupo de pacientes, em cada mama foi de 222,5 mL de gordura enriquecida com ADSCs e 260 mL de gordura não enriquecida com ADSCs. O primeiro grupo apresentou uma retenção média de volume de 80,2%, com aumento significativo de 2,6 vezes no volume mamário, enquanto o segundo grupo apresentou 45,1% de retenção média e aumento de 1,57 vezes no volume mamário. Nenhuma paciente apresentou reações adversas sérias. Ou seja, os resultados desse estudo indicam que além de as ADSCs melhorarem a retenção do enxerto de gordura, elas possuem um perfil seguro de uso.
As baixas taxas de retenção da gordura nos enxertos convencionais são devidas à morte (necrose) de uma parte do tecido enxertado. Isso acontece pois o suprimento de oxigênio é inicialmente limitado, uma vez que os vasos sanguíneos demoram um tempo para se formarem no enxerto. As ADSCs são células mais resistentes à baixas taxas de oxigênio e também auxiliam na formação de vasos sanguíneos. Assim, essas propriedades das ADSCs podem ser responsáveis pelo aumento na eficiência de retenção dos enxertos. Entretanto, como pode ser visto em um texto anterior do blog, um estudo mostrou que, se as ADSCs forem colocadas em um ambiente em que haja células cancerígenas residuais, elas podem estimular genes relacionados à tumorigênese, ou seja, essas células poderiam influenciar a reincidência de câncer de mama caso a paciente já tenha tido essa doença. Contudo, esse estudo foi realizado in vitro, e nem sempre os mesmos resultados são observados in vivo. Desta maneira, mais estudos devem ser realizados para avaliar essa questão com cautela.
Assim, o enxerto enriquecido pode ser uma alternativa promissora para o aumento do volume ou reconstrução mamária. Mas, se essa alternativa realmente vale mais a pena do que os métodos utilizados atualmente, é uma questão que ainda deve ser muito discutida pela comunidade científica e médica.