Linfedema em mulheres tratadas para o câncer de mama pode ser amenizado por células-tronco do tecido adiposo

Linfedema em mulheres tratadas para o câncer de mama pode ser amenizado por células-tronco do tecido adiposo

Em um estudo clínico de fase I, pesquisadores de um hospital na Dinamarca mostraram que as células-tronco derivadas do tecido adiposo podem ser usadas para tratar o linfedema – uma condição crônica que geralmente causa inchaço nos braços ou nas pernas. Esta terapia regenerativa pode ser uma nova possibilidade de tratamento para pacientes com linfedema relacionado ao câncer de mama.

 

O câncer de mama é o tipo de câncer mais incidente em mulheres no mundo. Só no Brasil, no ano de 2020, foram estimados 66.280 casos novos, o que representa uma taxa de incidência de 43,74 casos por 100.000 mulheres. A batalha contra o câncer é árdua, mas, felizmente, muitas mulheres têm saído vencedoras. No entanto, complicações decorrentes do tratamento do câncer de mama podem diminuir muito a qualidade de vida destas mulheres, como é o caso do linfedema – estima-se que uma em cada três mulheres tratadas para o câncer de mama acabam desenvolvendo esta condição crônica e debilitante. 

O linfedema é o acúmulo de líquido linfático no tecido adiposo, que causa inchaço (edema) e ocorre mais frequentemente nos braços ou pernas, mas pode acometer também outras partes do corpo. O linfedema relacionado ao câncer é provocado pela remoção de linfonodos durante a cirurgia do câncer ou pelo próprio tumor, que pode bloquear parte do sistema linfático. As consequências do linfedema podem ser físicas (a área inchada pode ficar rígida e / ou dolorida e há uma chance maior de infecção) e cosméticas (a pele pode ficar com cicatrizes e o membro afetado pode ficar muito inchado e deformado). Os tratamentos atualmente disponíveis são apenas paliativos. O foco está no controle da condição por meio de exercícios, roupas de compressão e bombas, drenagem manual, cuidados meticulosos com a pele, terapia e um estilo de vida saudável. Leia mais sobre o câncer de mama e o linfedema nos sites do Instituto Nacional de Câncer, INCA, e do Instituto Oncoguia, clicando aqui e aqui.

Uma equipe de pesquisadores dinamarqueses que conta com o Dr. Mads Gustaf Jørgensen, do Departamento de Cirurgia Plástica do Odense University Hospital, detectou a necessidade de avançar os estudos com células-tronco para o tratamento do linfedema para as clínicas. Segundo o Dr. Jørgensen, “embora faltem opções de tratamentos para melhorar o linfedema, os estudos pré-clínicos sugerem que as células regenerativas derivadas do tecido adiposo podem aliviar a condição.” A equipe realizou um estudo com acompanhamento de longo prazo para avaliar o potencial das células-tronco derivadas do tecido adiposo no tratamento do linfedema.

O principal desfecho avaliado pelo estudo foi a mudança no volume do braço das pacientes após o tratamento com as células-tronco. Os desfechos secundários avaliados incluíram a segurança do tratamento, a mudança nos sintomas do linfedema, qualidade de vida, celulite associada ao linfedema e a necessidade da continuidade do uso de tratamento tradicional.

Para conduzir o estudo, a equipe tratou 10 pacientes com linfedema decorrente de tratamento para câncer de mama, com células-tronco do tecido adiposo. As células-tronco foram coletadas da gordura do abdômen ou das coxas por meio de lipoaspiração e, após mínimo processamento, foram injetadas na região da axila. Os médicos acompanharam cada paciente em intervalos de 1, 3, 6, 12 e 48 meses após o tratamento.

Apesar de não ter sido observada uma redução no volume do braço das pacientes após o tratamento com células-tronco, elas relataram significativa melhora nos sintomas do linfedema. Seis pacientes reduziram o tratamento tradicional, que inclui o uso de roupas que exercem compressão, por exemplo. Cinco pacientes sentiram que seu linfedema havia melhorado substancialmente, e quatro delas afirmaram que refariam o tratamento. Não houve nenhum caso de recorrência do câncer de mama nas mulheres que participaram do estudo.

Segundo o Dr. Jørgensen, os resultados do estudo levaram a equipe a concluir que a administração de células-tronco do tecido adiposo por via axilar para o tratamento de linfedema é segura, viável ​​e melhora os sintomas das pacientes, bem como a função de seus membros superiores. Os resultados foram observados logo após o tratamento e mantidos por até quatro anos. 

Ensaios clínicos randomizados são ainda necessários para confirmar os resultados deste estudo e demonstrar a eficácia clínica do tratamento proposto.

 

Referências

 

Conceito e Magnitude do câncer de mama – Instituto Nacional do Câncer, INCA

https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-de-mama/conceito-e-magnitude

 

Linfedema – Instituto Oncoguia

http://www.oncoguia.org.br/conteudo/linfedema/88/5/

 

Jorgensen, M.G. et al. Adipose‐derived regenerative cells and lipotransfer in alleviating breast cancer‐related lymphedema: An open‐label phase I trial with 4 years of follow‐up. Stem Cells Translational Medicine (2021).

 

Phase I clinical trial shows promise of adipose-derived stem cells in treating lymphedema (17/02/2021): 

https://stemcellsportal.com/press-releases/phase-i-clinical-trial-shows-promise-adipose-derived-stem-cells-treating-lymphedema?utm_source=iContact&utm_medium=email&utm_campaign=rmw&utm_content=RMW+February+23


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