Células-tronco mesenquimais contribuem para cicatrização de fístulas perianais de pacientes com  doenças de Crohn

Células-tronco mesenquimais contribuem para cicatrização de fístulas perianais de pacientes com doenças de Crohn

Associadas com uma matriz que é absorvida posteriormente pelo organismo, as células-tronco podem auxiliar na recuperação desta que é uma das principais complicações da doença de Crohn.

A doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica que afeta o trato gastro-intestinal. Os sintomas principais são diarreias e dores abdominais, mas uma das principais consequências deste ataque do sistema imune ao trato gastro-intestinal é que ele pode comprometer a correta absorção dos nutrientes ingeridos na dieta, o que pode levar a outras consequências para a saúde do paciente, como anemia e perda de peso. Além disso, os pacientes com doença de Crohn podem apresentar também úlceras, abcessos e fístulas, que são comunicações anormais entre dois órgãos. Um tipo de fístula que ocorre em aproximadamente 20% dos pacientes com Crohn é a fístula perianal, em que o canal anal estabelece um “trajeto alternativo” com a pele da região ao redor do ânus. Este canal alternativo se forma por conta da obstrução de ductos das glândulas presentes nesta porção final do intestino, a qual por sua vez ocorre por conta das complicações derivadas da doença.

O tratamento das fístulas perianais é essencialmente cirúrgico e recentemente as células-tronco começaram a ser testadas como aliadas nesse tratamento, dado o seu potencial para promover cicatrização. Em um estudo recente publicado na revista Gastroenterology, pesquisadores da Mayo Clinic, em Minnesota, Estados Unidos, aplicaram estas células em fistulas perianais de 12 indivíduos, obtendo resultados bastante positivos. As células foram obtidas a partir da gordura dos próprios pacientes, cultivadas em laboratório para que se pudesse obter um grande número delas e então congeladas. Alguns dias antes da cirurgia, as células foram descongeladas e então associadas a uma matriz de dois polímeros bioabsorvíveis, ou seja, que podem ser absorvidos pelo corpo com o passar do tempo. Os pacientes assim tratados foram avaliados aos 3 e aos 6 meses após o procedimento. Dos 12 pacientes, 10 apresentaram cicatrização total das fistulas após 6 meses da cirurgia ao exame visual e radiológico. Nenhum paciente apresentou efeitos adversos decorrentes da aplicação das células, embora alguns tenham apresentaram efeitos adversos no local de coleta da gordura usada como fonte das células mesenquimais.

O detalhe mais interessante desse estudo foi o uso da matriz bioabsorvível: um estudo clínico fase 3 recente que também usou células-tronco mesenquimais para tratamento de fístulas perianais, porém sem o uso de uma matriz, obteve resultados mais modestos – apenas 50% dos pacientes apresentaram remissão das fístulas após 6 meses da aplicação das células. Assim, o uso da matriz parece ser um coadjuvante importante para o tratamento, possivelmente por favorecer que as células permaneçam no local da ferida, exercendo seus efeitos terapêuticos de forma mais potente e prolongada. Além de demonstrar a segurança do tratamento, o estudo também indica que o mesmo é parece ser eficiente para promover a cicatrização das fístulas perianais. Os pesquisadores pretendem agora realizar o tratamento em um número maior de  pacientes para comprovar a sua eficácia.

 

 

 

 


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