Células-tronco são usadas para estudar obesidade

Células-tronco são usadas para estudar obesidade

Usando células-tronco para formar neurônios que controlam o apetite e a saciedade, cientistas dão um passo importante na aplicação de medicina personalizada para tratar a questão da obesidade

A maior parte das pessoas concordaria que é difícil resistir a um belo pedaço de pizza ou bolo de chocolate – ou parar de comer essas guloseimas. Mas para algumas pessoas pode ser mais difícil do que para outras, e isso tem relação direta com neurônios do hipotálamo, uma região do cérebro responsável, entre outras coisas, por regular a sensação de fome e de saciedade. E, é claro, os resultados dessas diferenças são visíveis nos ponteiros da balança.

A obesidade vem aumentando mundialmente e essa é uma questão que envolve muitos fatores, desde psicológicos e socioeconômicos até genéticos. Não existe milagre nem solução única para todos: quando um grupo de pessoas é submetido ao mesmo regime de exercícios físicos, por exemplo, a perda (e ganho!) de peso varia entre os indivíduos. O mesmo acontece com as dietas. Tem crescido entre os especialistas em medicina personalizada a convicção de que é necessária uma abordagem individualizada para a questão do controle de peso.

Para isso, o ideal seria estudar diretamente as células do hipotálamo e entender como elas respondem aos sinais que provocam fome e saciedade e como elas regulam o metabolismo energético em pessoas com peso normal e pessoas obesas. A tecnologia de células-tronco pluripotentes induzidas é perfeita para isso, e já está começando a ser utilizada dessa forma.

Um grupo de pesquisadores publicou recentemente na revista Cell Stem Cell um trabalho em que usaram células do sangue e da pele para produzir células-tronco pluripotentes induzidas. Essas células foram, então, diferenciadas em uma população de células que tinha as mesmas características de neurônios do hipotálamo. Isso foi feito com dois grupos de pessoas: um grupo com peso dentro do normal (Índice de Massa Corporal menor que 25) e pessoas com obesidade mórbida (Índice de Massa Corporal igual ou maior que 50).

Os cientistas, então, estudaram as respostas dessas células diferenciadas aos hormônios responsáveis pela sinalização de fome e de saciedade nos dois grupos. Um dos resultados mais interessantes foi uma resposta aumentada, no grupo de pessoas obesas, ao hormônio grelina, que é responsável pela sensação de fome. Além disso, eles encontraram diversas mutações associadas à obesidade.

É importante lembrar que, no organismo, os neurônios do hipotálamo interagem com outros órgãos e tecidos, como o pâncreas e o tecido adiposo, para regular a fome, a saciedade e o metabolismo energético. O modelo criado apenas com os neurônios do hipotálamo é, portanto, simplificado. Mas é um bom exemplo do que pode ser feito com desenvolvimentos futuros da tecnologia de células-tronco usando pequenos sistemas de células e mini-órgãos. Como a obesidade é associada a um número muito grande de mutações genéticas que tornam as pessoas mais propensas ao sobrepeso, seria possível testar medicamentos de forma individualizada usando as células da própria pessoa.


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