Destaques do congresso da Sociedade Internacional de Pesquisa em Células-tronco

Destaques do congresso da Sociedade Internacional de Pesquisa em Células-tronco

Nós listamos algumas das discussões mais interessantes sobre células-tronco que aconteceram na ISSCR 2018

O congresso da Sociedade Internacional de Pesquisa em Células-tronco (International Society for Stem Cell Research – ISSCR) 2018 ocorreu no mês passado, em Melbourne, na Austrália. Esse é o maior evento focado em células-tronco do mundo, e nós apresentamos abaixo alguns dos destaques do congresso.

Células-tronco no tratamento da doença de Parkinson

O biólogo celular Lorenz Studer, do centro de câncer Memorial Sloan Kettering, anunciou que seu grupo está próximo de começar um ensaio clínico testando o uso de células-tronco embrionárias para regeneração dos neurônios dopaminérgicos perdidos com a doença de Parkinson. Ele mostrou no ISSCR 2018 que tem não apenas bons resultados científicos, mas também que está conseguindo produzir as células em larga escala, de acordo com boas práticas de fabricação. Isso é importante, porque um dos maiores desafios em se usar células como “medicamento” é conseguir produzir grandes quantidades de células equivalentes. O grupo de Studer é um dos quatro que integram o consórcio GForce-PD, que foi fundado para unir forças no tratamento da doença de Parkinson usando células-tronco. Podemos esperar mais ensaios clínicos vindo do GForce-PD nos próximos anos, incluindo ensaios testando o uso de células-tronco pluripotentes induzidas.

Células-tronco no tratamento da diabetes

A pesquisadora Shuibing Chen, do Weill Cornell Medical College, levou para a ISSCR 2018 os resultados do seu trabalho usando células-tronco no estudo da diabetes. A pesquisadora desenvolveu um protocolo para diferenciar células-tronco embrionárias em células beta pancreáticas (produtoras de insulina) “normais” e com uma mutação em um gene associado ao desenvolvimento de diabetes. Ela mostrou o mecanismo que leva à morte das células beta quando esse gene está mutado, e identificou um composto que reverte esse mecanismo. A pesquisadora também recebeu o prêmio Dr. Susan Lim para jovens cientistas pelo seu trabalho com células-tronco.

Vendo células-tronco regenerar a medula espinal em tempo real

Jan Kaslin e colaboradores, da Universidade Monash, isolaram células-tronco que migram para a medula espinal após uma lesão, e as acompanharam em tempo real enquanto elas executavam a regeneração de um nervo danificado. Usando microscopia confocal e “light sheet”, eles mostraram pela primeira vez como essas células se comportam e regeneram. Eles usaram o peixe danio zebra como modelo, já que ele tem excelente capacidade de regeneração e é fácil de ser visualizado por ser transparente. Os pesquisadores acreditam que estudar os genes e vias envolvidos no reparo de lesões medulares no danio zebra podem indicar como desencadear o mesmo processo em humanos.

Ética no uso de células-tronco

O uso de células-tronco levanta numerosas questões éticas – da destruição de embriões à criação de híbridos. Além disso, cada vez mais há preocupação em relação às terapias que chegam ao mercado. Muitos países – o Japão em particular – decidiram acelerar a aprovação de terapias celulares; para isso, eles diminuíram os processos regulatórios pelos quais uma nova terapia precisa passar para ser aceita. Como já discutimos aqui no site, por um lado, essa abordagem facilita o acesso do público a novas terapias; por outro, aumenta o risco a que os pacientes estão sujeitos. É ético autorizar empresas a cobrarem por terapias que ainda estão sendo testadas, especialmente quando o desenvolvimento dessas terapias foi subsidiado por verbas públicas? Essas questões foram levantadas durante a ISSCR 2018, e seguirão sendo discutidas nos próximos anos…

 


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