Embrião sintético reconstrói o “momento mais importante da sua vida” a partir de células-tronco

Embrião sintético reconstrói o “momento mais importante da sua vida” a partir de células-tronco

Cientistas da Universidade de Cambridge usaram células-tronco para construir embrião artificial que recapitula fielmente o início do desenvolvimento dos mamíferos

Se você tivesse que escolher o momento mais importante da sua vida, qual seria? De acordo com o biólogo celular Lewis Wolpert, não seria o nascimento, casamento ou morte, mas agastrulação. O nome pode não soar familiar, mas esse é o momento em que um embrião – até então contendo uma única camada de células – se reorganiza em uma estrutura contendo múltiplas camadas. Parece pouco? Ao final da gastrulação, o embrião estabelece os eixos básicos do corpo (dorsal-ventral e anterior-posterior), diferencia suas células em diferentes linhagens e internaliza um ou mais tipos celulares, incluindo o futuro sistema digestivo (daí o nome gastrulação). Cientistas da Universidade de Cambridge foram os primeiros a recapitular esse momento em laboratório, em estudo publicado na Nature Cell Biology no mês passado.

O grupo liderado pela pesquisadora Magdalena Zernicka-Goetz foi notícia no ano passado ao reportar a criação do primeiro embrião sintético feito totalmente a partir de células-tronco. No estudo de 2017, células-tronco do trofoblasto (que dão origem à placenta) e células-tronco embrionárias de camundongos foram geneticamente modificadas e cultivadas juntas em um arcabouço de gel 3D. Elas formaram uma estrutura muito similar a um embrião natural de camundongo, mas nunca chegaram ao estágio de gastrulação. Para atingir essa etapa de desenvolvimento, um terceiro tipo de células-tronco estava faltando: as células endodérmicas primitivas.

Quando os pesquisadores substituíram o arcabouço de gel pelas células-tronco endodérmicas, eles geraram estruturas capazes de atingir o estágio de gastrulação, e assim se organizar nas três camadas de tecido que todos os mamíferos apresentam: endoderma, mesoderma e ectoderma. O embrião artificial se auto-organizou da mesma maneira que um embrião natural, reproduzindo a mesma arquitetura celular e o mesmo padrão de atividade gênica. O momento mais importante da vida foi reconstruído em uma placa de petri.

Cientistas esperam usar essas estruturas artificiais para estudar o desenvolvimento embrionário humano, já que atualmente muitos países restringem ou proíbem o uso de embriões para pesquisa. Embriões sintéticos criados a partir de células-tronco não requerem a destruição de embriões humanos, e poderiam avançar nosso conhecimento sobre o que acontece na fase mais inicial da gestação, potencialmente ajudando casais com problemas de fertilidade.


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