Durante a menopausa, os níveis de hormônios sexuais femininos como o estradiol caem drasticamente no organismo da mulher. Uma equipe de pesquisadores americanos e finlandeses mostrou que a deficiência deste hormônio afeta populações de células-tronco encontradas nos músculos, as chamadas células satélite, diminuindo o potencial regenerativo do tecido muscular. Os pesquisadores descobriram um medicamento que pode ser utilizado como alternativa à terapia de reposição hormonal para evitar o declínio da população de células satélite em mulheres que entraram na menopausa, ajudando a manter a saúde muscular.
Quando sofremos uma lesão muscular, células-tronco são responsáveis pela regeneração e recuperação das funções do músculo afetado. Estas células-tronco presentes nos músculos são chamadas “células satélite” e permanecem em estado de dormência, sendo ativadas em resposta a lesões no tecido muscular ou esforço físico. A fim de regenerar o tecido lesionado, essas células passam por um processo conhecido como divisão assimétrica, no qual uma célula satélite origina duas outras células, sendo uma delas um mioblasto, que é uma célula muscular especializada, e a outra uma célula satélite, assim como a célula original. No primeiro caso, diz-se que a célula se diferencia e, no segundo, que a célula se autorrenova. Assim, o estoque de células-tronco no tecido muscular é preservado, garantindo que elas estarão presentes e atuarão na regeneração do tecido em caso de futuras lesões.
Contudo, como já explicamos anteriormente aqui no blog, diversos fatores podem comprometer as funções das células-tronco, alterando o balanço entre diferenciação e autorrenovação e diminuindo o estoque de células satélite nos músculos, o que afeta sua capacidade regenerativa. Dentre estes fatores destaca-se o envelhecimento, cujo efeito sobre a força muscular de homens já é bastante estudado. No entanto, no caso de mulheres há o agravante da menopausa, fase em que há um declínio natural dos hormônios sexuais e que afeta mulheres com idade média de 50 anos.
A menopausa tem diversas consequências no corpo feminino, sendo que as mulheres passam a enfrentar sintomas como ondas de calor, depressão, além de apresentar osteoporose e enfraquecimento muscular. O enfraquecimento dos músculos em mulheres que entraram na menopausa foi relacionado à diminuição dos níveis de estradiol, um hormônio sexual feminino da classe dos estrogênios. No entanto, até recentemente, o efeito direto da deficiência de estradiol no organismo sobre as células satélite ainda não havia sido estudado sistematicamente.
A equipe de pesquisadores liderada pelo professor Dawn Lowe, da Faculdade de Medicina da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, comprovou que o estradiol é fundamental para o bom funcionamento de células satélite nos músculos de indivíduos do sexo feminino. O estudo conduzido pela equipe investigou a capacidade regenerativa dos músculos de camundongos cujos ovários foram removidos cirurgicamente, bem como de animais nos quais o receptor de estradiol em suas células-tronco musculares foi removido por meio de edição genética. Os pesquisadores descobriram que a perda de estradiol ou a deleção genética do receptor de estradiol nas células-tronco musculares levaram a uma queda de 30% a 60% nos números das células satélites em cinco músculos diferentes. As células sobreviventes tiveram dificuldade em se multiplicar e gerar novos músculos após uma lesão. O estudo também incluiu uma colaboração com cientistas na Finlândia, que realizaram biópsias musculares em mulheres pouco antes e logo após a transição para a menopausa. Com isso, os pesquisadores mostraram que, em humanos, o número de células satélite está fortemente relacionado à mudança dos níveis de estradiol no organismo.
Sabe-se que a terapia de reposição de hormônios, incluindo o estradiol, para os sintomas da menopausa pode ajudar a manter a saúde muscular. No entanto, tal terapia de reposição hormonal, apesar de ajudar na recuperação dos músculos enfraquecidos, também aumenta o risco de câncer devido aos efeitos adversos dos estrogênios nos tecidos, como na mama e no endométrio. A equipe do professor Lowe mostrou que uma nova classe de medicamentos, conhecida por interagir com receptores estrogênicos de uma forma que não afeta o tecido mamário ou endometrial, foi capaz de estimular o sinal de estradiol nas células-tronco musculares e poderia evitar o declínio do número de células satélite nos músculos de mulheres que entraram na menopausa, sem os riscos associados à terapia de reposição hormonal convencional.
Referências
https://medicalxpress.com/news/2019-07-muscle-loss-menopause.html