Cientistas ingleses foram capazes de desenvolver em laboratório um tipo de célula-tronco que tem potencial de diferenciação celular parecido com o de um embrião de cerca de dois dias de idade
Recentemente nós fizemos um resumo para você com os tipos de célula-tronco e o seu potencial de diferenciação celular. Até o momento, as células-tronco pluripotentes cultivadas em laboratório eram embrionárias pluripotentes (de um estágio do embrião chamado blastocisto, com cerca de 100 células) ou pluripotentes induzidas (programadas a partir de células adultas). Agora nós temos uma novidade sobre as pesquisas com um tipo de célula-tronco embrionária, aquela que é considerada totipotente por ter um potencial de diferenciação celular ilimitado: pela primeira vez, foi possível desenvolver em laboratório culturas dessas células-tronco, a partir de embriões de camundongos que tinham entre 4 e 8 células apenas. Nesse estágio, as células são chamadas de blastômeros, e ainda são capazes de dar origem tanto ao embrião como aos tecidos extraembrionários.
Primeiro, os cientistas conseguiram cultivar linhagens dessas células, que eles chamaram de célula-tronco potencial expandida (EPSC, na sigla em inglês). Para isso, eles cultivaram as células em um meio de cultura especial, que contém um coquetel de substâncias químicas que inibem a diferenciação celular. Um dos avanços desse trabalho é que essa metodologia pode ser utilizada para desenvolver linhagens de células-tronco para outros mamíferos, em que não há linhagens de células-tronco embrionárias ou pluripotentes induzidas disponíveis para pesquisa.
Os pesquisadores também descobriram que é possível reprogramar células-tronco embrionárias do estágio de blastocisto e células-tronco pluripotentes induzidas para que elas voltem ao estágio inicial de desenvolvimento, tornando-se células tronco potenciais expandidas. Essa possibilidade aumenta a viabilidade de pesquisas utilizando esse tipo de célula.
Uma área de pesquisa clínica que pode se favorecer bastante desse novo tipo de cultura celular é a infertilidade feminina causada por problemas no estágio inicial da gestação. Nós já falamos um pouco sobre como as células-tronco podem ajudar no estudo sobre o que pode dar errado nesse período aqui no blog, quando cientistas conseguiram criar um saco amniótico humano utilizando células-tronco pluripotentes induzidas. As células-tronco potenciais expandidas, cultivadas nesse novo estudo, têm um potencial de diferenciação maior ainda: a mesma célula pode formar tanto tecidos embrionários, como tecidos extraembrionários (placenta e saco amniótico), permitindo um estudo mais detalhado dessa fase do desenvolvimento.
Os cientistas estão otimistas quanto às novas possibilidades que o cultivo desse tipo de célula pode oferecer para as pesquisas em medicina regenerativa, terapias celulares e transtornos do desenvolvimento. Outra aplicação interessante que foi sugerida é que as células-tronco potenciais expandidas poderiam ser utilizadas para conservação ambiental, ajudando a proteger espécies em extinção.
De qualquer forma, apesar da importância da descoberta, ela é um primeiro passo para mais estudos que ainda têm desafios pela frente: éticos, como as questões envolvendo o uso de células-tronco embrionárias e o desenvolvimento artificial de organismos, e metodológicos, como a preocupação de que células-tronco (especialmente embrionárias e pluripotentes induzidas) possam gerar tumores.
Referências:
Yang J et al. Establishment of mouse expanded potential stem cells. Nature. 2017
New Stem Cells Could Take Cell Research and Therapies to the Next Level..
Most versatile stem cell ever may help us understand miscarriage.
New type of stem cell line produced offers expanded potential for research and treatments.