Células-tronco e edição genética separam mutações “boas” das “ruins”, e podem predizer o risco de doença cardíaca

Células-tronco e edição genética separam mutações “boas” das “ruins”, e podem predizer o risco de doença cardíaca

Diferenciar mutações benignas das patogênicas pode ser difícil, mas a combinação de células-tronco e edição genética pode facilitar essa tarefa, e evitar tratamentos desnecessários para doença cardíaca

Todos nós carregamos mutações. São essas variações que garantem a diversidade humana – e também muitas das nossas doenças. Não à toa, kits de teste de DNA são cada vez mais populares. De preferências alimentares ao risco de desenvolver doenças graves, esses kits prometem iluminar como essas variantes fazem de você, você. O que nem sempre fica claro para os consumidores é que identificar essas mutações é fácil, mas determinar o real papel dessas mutações no contexto do nosso organismo pode ser bem mais difícil.

Veja o caso da cardiomiopatia hipertrófica, por exemplo. Essa doença cardíaca pode levar à morte súbita pessoas e atletas jovens, sem causar nenhum outro sintoma. Testes genéticos parecem ser um bom investimento nesse caso: eles permitem identificar variantes associadas à doença, e assim permitir que os portadores dessas variantes façam exames regulares ou mesmo tratamento preventivo. Parece bom, mas pode não ser tão bom assim.

O problema é que nem sempre é fácil é determinar se uma variante associada a uma doença de fato causa essa doença. De certa forma, essas variantes são como pessoas encontradas na cena de um crime; não é porque elas estavam presentes na hora do crime que elas são as responsáveis por ele. Ninguém gostaria de prender um inocente só porque ele estava no lugar errado na hora errada. Da mesma forma, médicos não querem tomar decisões clínicas baseadas em variantes genéticas inconclusivas; isso custa tempo, dinheiro e tratamentos desnecessários.

Para resolver esse problema, o ideal seria estudar duas pessoas idênticas, que diferem apenas no gene de interesse, e verificar se o portador da variante potencialmente patogênica de fato desenvolve a doença. Criar essas pessoas pode não ser possível (ainda bem!) mas cientistas da Universidade de Stanford encontraram um ótimo substituto: células-tronco geneticamente modificadas.

Os pesquisadores coletaram células sanguíneas de um portador da variante suspeita de causar doença cardíaca, e a partir delas geraram células-tronco pluripotentes induzidas. Algumas dessas células-tronco foram mantidas com o genoma original (contendo a variante suspeita), enquanto outras foram corrigidas usando a ferramenta de edição genética CRISPR/Cas9. Os pesquisadores então compararam a expressão gênica, morfologia e função das células originais e modificadas. Conclusão: a variante suspeita não causa doença cardíaca. Portadores dessa mutação podem ficar tranquilos, e não precisam se submeter a exames e tratamentos sem necessidade. Essa é sem dúvida uma das aplicações mais interessantes das células-tronco: modelagem de doenças e desenvolvimento de tratamentos personalizados.

Fontes:

❏ American Heart Association Newsroom. Gene editing technology may improve accuracy of predicting individuals’ heart disease risk. June 18, 2018

❏ Ma N et al. Determining the Pathogenicity of a Genomic Variant of Uncertain Significance Using CRISPR/Cas9 and Human-Induced Pluripotent Stem Cells. Circulation, July 2018


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