Microvesículas liberadas por células-tronco mesenquimais diminuem a taxa de ruptura de aneurismas em camundongos

Microvesículas liberadas por células-tronco mesenquimais diminuem a taxa de ruptura de aneurismas em camundongos

Por sua capacidade de modular as respostas inflamatórias de células do sistema imune, as microvesículas por si só poderiam atuar preventivamente em casos de aneurismas cerebrais

O aneurisma cerebral recentemente tomou conta dos noticiários com a morte da ex-primeira dama brasileira Marisa Letícia, vítima da ruptura de um aneurisma. O aneurisma é o nome que se dá para uma região de uma artéria que sofreu uma dilatação em função do enfraquecimento da parede do vaso. Este enfraquecimento pode ser causado por um trauma ou por alguma condição clínica como pressão alta, problemas renais ou doenças vasculares. Em alguns casos, este problema também pode ser congênito. Um aneurisma pode ocorrer basicamente em qualquer artéria do corpo, mas os que ocorrem no cérebro, na aorta torácica e na aorta abdominal são os que apresentam maior taxa de mortalidade.

Muitas pessoas convivem com aneurismas sem saber pois, em geral, não causam sintomas. O grande risco do aneurisma é seu rompimento, que levará ao extravasamento de sangue na região e à perda de irrigação dos tecidos nutridos pelo vaso rompido. Assim, além do alto risco de mortalidade, a ruptura de um aneurisma também está associada a um alto risco de prejuízos permanentes para a saúde do indivíduo. Em alguns casos, intervenções cirúrgicas são utilizadas para prevenir sua ruptura, porém há casos em que o paciente não pode ser submetido a uma cirurgia ou em que o aneurisma não pode ser operado. Dessa forma, o desenvolvimento de estratégias não cirúrgicas é de extrema importância.

Em uma publicação recente na revista Stem Cells, cientistas da Universidade da Califórnia – São Francisco demonstraram ter dado um passo importante nesse sentido. Baseado em diversos estudos que mostram que a inflamação crônica tem relação com a formação e ruptura dos aneurismas, os cientistas decidiram apostar na capacidade de imunomodulação das células-tronco mesenquimais como uma possível estratégia terapêutica. Para isso, o grupo induziu a formação de aneurismas em camundongos e, após 6 dias da indução, injetaram na corrente sanguínea desses animais microvesículas derivadas de células-tronco mesenquimais.

As microvesículas são pequenas bolsas liberadas pelas células que contêm diversas moléculas como proteínas, lipídios, RNA etc. Ao contato com outras células, essas moléculas podem ser transferidas e então exercerem seus efeitos. Os cientistas utilizaram as microvesículas, ao invés das células-tronco em si, pois acredita-se que as propriedades de imunomodulação das células-tronco mesenquimais estejam justamente relacionadas a liberação de microvesículas contendo moléculas que exercem efeitos sobre o controle do sistema imune. O grupo observou que os camundongos submetidos ao tratamento tiveram uma redução de quase 40% das taxas de ruptura dos aneurismas. De fato, próximo às artérias cerebrais com o aneurisma , pode-se detectar a presença das microvesículas injetadas e uma diminuição do número de mastócitos, um tipo celular especializado do sistema imunológico que parece ter papel fundamental na formação e ruptura dos aneurismas.

Testes in vitro também mostraram que mastócitos tratados com microvesículas derivadas de células-tronco mesenquimais liberam menos moléculas relacionadas aos processos inflamatórios. E o mais interessante: microvesículas liberadas por fibroblastos (que não são células-tronco) não são capazes de exercer esse efeito imunomodulatório sobre os mastócitos!

Este estudo abre boas perspectivas para o desenvolvimento de terapias baseada em células-tronco para tratamento de aneurisma pois as microvesículas tem a vantagem de, por serem menores, atravessarem com maior facilidade a barreira hemato-encefálica, e de estarem associadas com menores riscos de efeitos adversos, como rejeição e formação de tumores.

O artigo pode ser acessado em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/stem.2448/full


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