Células-tronco podem ser nova alternativa para o tratamento do hipogonadismo em homens

Células-tronco podem ser nova alternativa para o tratamento do hipogonadismo em homens

O hipogonadismo é uma doença que leva à diminuição dos níveis de testosterona no organismo e acarreta em diversos sintomas que afetam a qualidade de vida de muitos homens. Uma equipe de pesquisadores chineses acaba de publicar um trabalho no qual um método seguro e eficaz para obter células produtoras do hormônio a partir de células-tronco foi desenvolvido. Tal método tem grande potencial para avançar para testes clínicos e promete eliminar a necessidade de terapias de reposição hormonal masculinas em casos de hipogonadismo.

O hipogonadismo masculino é uma doença na qual os testículos não produzem testosterona suficiente, levando a uma deficiência deste hormônio no organismo. Esta doença afeta cerca de 30% dos homens com idade entre 40 e 79 anos e os sintomas mais comuns são a libido diminuída, disfunção erétil, distúrbios de humor, redução de pelos no corpo, perda de massa muscular e de densidade óssea e ganho de gordura. Uma das causas do hipogonadismo é uma disfunção em células presentes nos testículos, chamadas células de Leydig, que produzem testosterona. As células de Leydig são também chamadas de células intersticiais, pois estão
localizadas nos interstícios do testículo (nos espaços entre os microcanais que produzem sêmen) e a testosterona sintetizada por elas é essencial para as funções fisiológicas do sistema reprodutor masculino.

A terapia de reposição de testosterona pode ser realizada para regular os níveis do hormônio no organismo e aliviar os sintomas do hipogonadismo. No entanto, esta abordagem terapêutica pode aumentar o risco de o paciente sofrer de complicações cardiovasculares e tumores na próstata. O transplante de células de Leydig é um tratamento alternativo promissor pois permite restabelecer os níveis normais de testosterona de forma duradoura no organismo de
pacientes que sofrem de hipogonadismo. As pesquisas com células-tronco para a obtenção de células de Leydig vinham focando na utilização da técnica de transfecção gênica. Esta técnica consiste basicamente da introdução de genes (segmentos de DNA) de maneira controlada em células cujas funções se deseja alterar. Normalmente, os “veículos” que transportam estes genes para o interior dos núcleos das células são vírus, chamados vetores virais. No caso, a intenção é fazer com que células-tronco passem a incorporar os genes de células de Leydig após a transfecção e produzam testosterona. No entanto, a transfecção de genes mediada por vetores virais ainda não é considerada segura para aplicações clínicas.

Em um trabalho pioneiro, pesquisadores chineses conseguiram fazer com que células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs) se diferenciassem em células de Leydig utilizando uma série de compostos moleculares (incluindo fatores de crescimento e esteróides). As células de Leydig derivadas de iPSCs adquiriram a capacidade de produzir testosterona e apresentaram perfil genético muito semelhante ao de células de Leydig comuns. Para investigar se as células poderiam sobreviver e funcionar in vivo , elas foram transplantadas em ratos que haviam previamente sido tratados com um composto que eliminou suas células de Leydig naturais. Uma injeção deste composto eliminou seletivamente todas as células de Leydig de ratos adultos e levou a uma queda expressiva nos seus níveis de testosterona. As células derivadas das iPSCs foram marcadas com um corante fluorescente vermelho antes de serem implantadas nos ratos, o que permitiu o acompanhamento por imagens destas células no corpo dos animais. Duas semanas após serem injetadas, as células foram localizadas exclusivamente nos interstícios dos testículos dos ratos. Os resultados mostraram que elas foram capazes de acelerar a recuperação dos níveis fisiológicos de testosterona no organismo dos ratos que passaram pelo procedimento. Como a testosterona é importante na manutenção dos órgãos reprodutores normais, a deficiência deste hormônio pode causar atrofia dos testículos, diminuindo seu tamanho. Os pesquisadores observaram que em ratos que receberam as células transplantadas, houve uma recuperação da massa dos testículos, que acabaram ficando com tamanho muito próximo ao original.

O método desenvolvido neste trabalho para a obtenção de células de Leydig se mostrou muito eficaz e pode ser considerado muito mais seguro que os procedimentos que envolvem transfecção de genes. Por isso, esta abordagem tem potencial para ser o futuro das aplicações clínicas de células-tronco para o tratamento do hipogonadismo masculino.

Referência
Chen, X. et al . Differentiation of human induced pluripotent stem cells into Leydig-like cells with molecular compounds. Cell Death and Disease (2019) 10:220.


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