Novidades no uso de células-tronco para o tratamento de lesões medulares

Novidades no uso de células-tronco para o tratamento de lesões medulares

Traumas da coluna vertebral são um dos maiores desafios da medicina regenerativa. Duas novas técnicas podem facilitar o uso de terapia celular no tratamento de lesões medulares

Estima-se que 10 mil pessoas sofram lesões na coluna vertebral todos os anos no Brasil, principalmente em decorrência de trauma. Quedas, acidentes automobilísticos e ferimentos por armas de fogo são as causas mais comuns de lesões na medula espinal no Brasil, e podem levar à perda irreversível na sensibilidade e movimentos. Apesar da gravidade dessas lesões, e da intensa pesquisa atrás da cura, ainda não existem tratamentos com células-tronco aprovados para o tratamento de lesões medulares. Veja abaixo duas novas técnicas que podem facilitar o uso de terapia celular no tratamento de lesões medulares.

Criando células-tronco neurais em laboratório

Uma das dificuldades no reparo das lesões medulares é conseguir gerar células-tronco neurais da medula espinal no laboratório. Cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) foram os primeiros a realizar esse feito. Eles utilizaram células-tronco embrionárias humanas para gerar as células-tronco neurais da medula espinal in vitro, mostraram que elas são estáveis em cultura e que, quando implantadas em animais, se diferenciam nos principais tipos celulares necessários. Isso é importante porque nosso sistema nervoso não é feito apenas de neurônios, mas também de outros tipos de célula, chamadas coletivamente de glia. Quando implantadas em roedores, essas células-tronco neurais se diferenciaram nos principais tipos de células nervosas adultas e estabeleceram sinapses com o cérebro e com as terminações nervosas periféricas. O próximo passo é testar essas células-tronco em primatas.

Guiando células-tronco neurais usando impressão 3D

A medula espinal é como uma ponte que conecta nosso cérebro ao restante do nosso corpo transmitindo informações motoras e sensoriais. Quando essa ponte se rompe, perdemos movimentos e sensibilidade, mesmo que os dois lados da lesão ainda estejam funcionais. Para facilitar a reconstrução dessa ponte, e recuperar a comunicação entre os dois lados da lesão, cientistas da Universidade de Minnesota criaram um “guia” para as células neurais usando impressão 3D. A estrutura é baseada em um arcabouço de silicone onde foram impressas células-tronco neurais. O objetivo é implantar essa estrutura no local da lesão; após o implante, as células ali presentes crescem seguindo canais no arcabouço de silicone, facilitando a reconexão dos dois lados da lesão. Mesmo que a reconexão não seja completa, dizem os pesquisadores, a qualidade de vida dos pacientes já pode ser muito melhor. “Existe a percepção de que pessoas com lesões medulares só serão felizes se puderem andar novamente. Na verdade, a maioria quer coisas simples, como recuperar o controle da bexiga ou ser capaz de parar movimentos incontrolável das pernas”, disseram os pesquisadores em entrevista.

Fontes:

  •  Campos M et al. Epidemiologia do traumatismo da coluna vertebral. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões35(2), 2008
  • Kumamaru H et al. Generation and post-injury integration of human spinal cord neural stem cells. Nat Methods.2018 Aug 6 [Epub ahead of print]
  • University of Minnesota News & Events. New 3D-printed device could help treat spinal cord injuries. August 9, 2018

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