Ofertas de injeções de células-tronco que prometem tratar diversas doenças têm aparecido de forma crescente nos EUA, no entanto, estes produtos são muitas vezes irregulares e apresentam riscos aos pacientes. Aqui no Brasil, devemos ficar atentos a situações similares e buscar informações sobre a aprovação pelas agências reguladoras de qualquer produto contendo células-tronco.
O cientista americano Paul Knoepfler, biólogo e professor no Departamento de Biologia Celular e Anatomia Humana da Universidade da Califórnia em Davis, publicou recentemente em seu blog artigos que expressam sua preocupação com vendas irregulares de células-tronco nos Estados Unidos. Embora as publicações do professor Knoepfler relatem casos que vêm ocorrendo nos EUA, não podemos deixar de considerar que situações semelhantes possam vir a acontecer em outros países, como no Brasil e, por isso, devemos sempre ficar atentos.
Em seus posts, o professor fez referência ao grande marketing envolvido na comercialização de injeções de células-tronco não aprovadas pela agência regulatória americana, a FDA, que tem sido anunciadas como uma forma de tratamento para as mais diversas doenças. Ofertas de tais injeções, que antes eram vistas apenas em anúncios em alguns websites, agora aparecem também em jornais, comerciais de tv e até em outdoors. Normalmente, trata-se de anúncios de clínicas que oferecem o “produto” (a injeção de conteúdo duvidoso) a médicos e outros profissionais da saúde, como quiropratas, para que estes possam lucrar disponibilizando-o a seus pacientes. Os lucros certamente vêm antes do bem-estar e segurança dos pacientes na lista de prioridades de profissionais que incluem tais produtos irregulares em seu “repertório de terapias”.
O professor Knoepfler chamou a atenção para a comercialização de um tipo de células-tronco oriundas de “produtos do parto”, isto é, cordão umbilical, líquido amniótico e placenta. Segundo ele, há um número crescente de clínicas que vendem injeções que supostamente contém este tipo de células-tronco, mas que seu conteúdo, na verdade, não passa de células mortas. Não se sabe ao certo de onde estas células vieram, se as mães consentiram doá-las no momento do parto e se sabem que estão sendo vendidas. Também não se sabe se as células foram testadas para avaliar sua possível contaminação por agentes patogênicos. Houve um caso recente nos EUA de pacientes que acabaram hospitalizados devido ao uso de um produto contendo células-tronco de cordão umbilical contaminado com bactérias.
Como já vimos aqui no blog, existe todo um processo que deve ser seguido para a aprovação de terapias que envolvem o uso de células-tronco, desde a pesquisa pré-clínica até as pesquisas clínicas em diferentes estágios. Os ensaios clínicos devem ser aprovados por uma agência reguladora governamental para que possam ser realizados, sendo que no Brasil, esta agência é a ANVISA. A ANVISA também é responsável pela liberação dos tratamentos para que eles possam ser comercializados. Já alertamos vocês leitores, mas voltamos a destacar aqui neste artigo, que o risco relacionado a se submeter a um tratamento que não tenha passado pelo processo de validação por testes clínicos e que não tenha sido aprovado por uma agência reguladora é muito elevado.
Se você se deparar com uma oferta de um “tratamento milagroso” envolvendo injeções de células-tronco, tome cuidado. Procure saber se o profissional que está te fazendo tal oferta é habilitado para isso e se o produto oferecido passou pelas etapas de testes requeridas, além de possuir as devidas licenças da agência reguladora, seja aqui no Brasil ou fora do país. Em paralelo a isso, não deixe de conversar sobre as suas dúvidas com um especialista na área de medicina regenerativa com base em células-tronco. Já publicamos um texto aqui no blog com orientações que ajudam a identificar tratamentos confiáveis, com ensaios clínicos registrados (confira aqui). Os tratamentos oferecidos podem incluir não apenas promessas de cura para diversas doenças, mas também intervenções estéticas rejuvenescedoras. De qualquer forma, é melhor se informar antes de se submeter ao procedimento.
Referências
“The Niche” – Blog do Prof. Paul Knoepfler a respeito de células-tronco: https://ipscell.com/
O marketing em torno das injeções de células-tronco (14/03/2019): https://ipscell.com/2019/03/stem-ell-clinic-marketeers-dangle-big-bucks-to-docs/
Vendas irregulares de células-tronco obtidas de “produtos do parto” (23/01/2019): https://ipscell.com/2019/01/sales-of-zombie-birth-related-stem-cells-continue-to-mushroom/
